O passarinho voou

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Todos os dias, a natureza nos envia passarinhos de presente. Envolvidos com nossas preocupações, nem sempre percebemos que eles estão voando ao redor, dando mais beleza e graça à vida. 

Certa vez, durante um fim de semana, eu estava na chácara de um casal de amigos preparando o almoço da turma. De repente, minha filha, Marina, que na época tinha 4 anos, entrou como um furacão na cozinha. Estava eufórica: o rosto era pura felicidade, os olhinhos brilhavam como dois diamantes ao sol. 

– Papai, vem ver que passarinho lindo eu achei – disse ela quase gritando. 

Nem tive tempo de responder. Ela virou as costas e, entusiasmada, voltou correndo para admirar sua descoberta. 

Fui até o fogão, desliguei o gás, lavei as mãos e, em seguida, tirei o avental. Cumprido esse ritual – nada além do que se espera de um adulto responsável e zeloso –, eu me dirigi à porta. Não levei mais que 30 segundos depois do chamado. 

Quando saí da cozinha, a pequena Marina já estava voltando com uma expressão de frustração no rosto. Seus olhos não brilhavam mais. Percebi que já era tarde. Ela me olhou e disse: 

– Papai, o passarinho voou. 

Fiquei um momento ali, parado, com cara de bobo, sem esboçar nenhuma reação diante daquele anjinho que me censurava por ter demorado tanto para ver algo maravilhoso que acabara de descobrir. Depois, tentei consolá-la com um beijo carinhoso e, devagar, fui me dando conta de que eu também precisava de consolo. 

As emoções que senti em alguns instantes decisivos da vida tomaram conta do meu coração. Lembrei-me das incontáveis situações desafiadoras em que precisei partir para o tudo ou nada. Cenas de um rápido filme passaram por minha mente, imagens de momentos em que precisei tomar rapidamente uma decisão, abandonar o fogão, jogar tudo para o alto e correr atrás dos passarinhos da vida! 

Comecei então a me questionar: por que naquela hora não larguei tudo e fui curtir o passarinho com minha filha? 

Pensei imediatamente no sofrimento que sentem as pessoas que desperdiçam a vida apenas porque não tomam uma decisão e uma atitude capazes de transformá-la. 

Pensei em quantos filhos se arrependem por nunca ter dito “eu te amo” a seus pais enquanto eles eram vivos… 

Em quantos pais e mães se lamentam por jamais ter tido a coragem de transformar o relacionamento com seus filhos antes que eles se afastassem por completo do convívio com a família… 

Em quantos profissionais perderam uma grande proposta de emprego porque não aceitaram abandonar a segurança de um cargo… 

Em quantas pessoas liquidaram a possibilidade de ser felizes em outro relacionamento porque não romperam um casamento sem amor… 

Em quanta gente deixa de exercer a profissão de seus sonhos por não ter coragem de arriscar… 

Mas penso também que ninguém pode viver permanentemente fazendo mudanças radicais na vida. A melhor maneira de resolver os problemas de um casamento insatisfatório é certamente conversar sobre as dificuldades buscando um entendimento que nos traga mais felicidade. A melhor maneira de trocar de emprego é fazer um planejamento adequado e enviar currículos antes de pedir demissão. 

Se sua vida está tranquila, seguindo um rumo em que você se sente pleno, o processo de evolução deve ser progressivo e sem grandes abalos. Há, porém, situações frustrantes ou opressivas que se arrastam por anos a fio sem que a gente consiga resolvê-las e que nos fazem viver debaixo de um manto de dor. Em meio a esse sofrimento contínuo, um dia nossa consciência desperta e percebemos que, para mudar, precisamos dizer: é agora ou nunca! É tudo ou nada! 

Nesse despertar, compreendemos que chegou o tempo de agir. Uma pequena distração e… 

Cadê o passarinho? 

Em instantes assim, tenha a coragem de acreditar na vida e responda: “Sim, aqui vou eu!” 

Mas, Roberto, se você saísse correndo atrás de Marina e esquecesse o fogão ligado por uma hora, haveria um incêndio devastador na cozinha! 

Calma. Agarrar a maravilhosa oportunidade de ver um pássaro não significa deixar de ser responsável. Era só voltar à cozinha depois de cinco minutos e nenhum drama aconteceria. 

Muitas vezes, por temer as consequências de nossas ações, criamos fantasmas que nos impedem de seguir adiante e acabam nos imobilizando. É como se nos transformássemos em estátuas, soterrando toda a nossa energia de vida sob camadas e mais camadas de preocupações. 

Esteja atento aos presentes da vida e disposto a abrir suas asas para voar com os passarinhos! 

Já está indo embora :´(
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