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Quando o destino é o vinho
Viajar pelo mundo do vinho não é apenas atravessar territórios: é atravessar histórias, culturas e paisagens que moldaram a humanidade. Em cada vinhedo, uma narrativa singular; em cada garrafa, o reflexo de uma terra, de um povo, de um clima.
O enoturismo — turismo voltado à experiência do vinho — cresce a passos largos. Segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), só em 2024, movimentou cerca de 40 bilhões de dólares no mundo. O viajante contemporâneo não busca apenas destinos: busca experiências autênticas — e o vinho, com sua fusão entre natureza e arte, entrega isso como poucos.
Europa: o berço histórico das vinhas
Quando se fala em vinhedos, a Europa é o primeiro nome que vem à mente. Aqui, tradição e prestígio andam lado a lado.
- França: Das encostas calcárias da Borgonha às margens do Gironde em Bordeaux, o país é sinônimo de excelência. Destinos como Champagne, com suas caves subterrâneas reconhecidas pela UNESCO, oferecem tours que vão além da taça — são verdadeiras aulas de história.
- Itália: Toscânia, Piemonte, Sicília. Cada região carrega séculos de savoir-faire. Em Montalcino, por exemplo, visitar uma vinícola produtora de Brunello é entender como o tempo — e a paciência — são ingredientes indispensáveis.
- Espanha: Ribera del Duero, Rioja, Priorat. Aqui, tradição e inovação se misturam. Muitas bodegas abrem suas portas para degustações guiadas, harmonizações e até hospedagem, em um modelo que atrai turistas sofisticados do mundo todo.
Novo Mundo: vinhedos que conquistaram prestígio global
O Novo Mundo do vinho — América, Oceania, África do Sul — já não é mais apenas promessa: é realidade premiada.
- Chile e Argentina: Do Valle de Casablanca ao Valle de Uco, a Cordilheira dos Andes desenha cenários impressionantes. Vinícolas como a Concha y Toro (Chile) ou Catena Zapata (Argentina) oferecem tours de tirar o fôlego. Mendoza, em especial, é famosa pelos wine lodges, hotéis boutique dentro dos vinhedos.
- Estados Unidos: Napa Valley e Sonoma são ícones da Califórnia. Após o “Julgamento de Paris” em 1976, quando vinhos californianos superaram franceses em degustação às cegas, os olhos do mundo voltaram-se para lá. Hoje, experiências exclusivas como passeios de balão sobre as vinhas e jantares harmonizados atraem enófilos de todos os cantos.
- África do Sul e Austrália: Stellenbosch e Margaret River são nomes obrigatórios para quem deseja explorar terroirs exóticos e rótulos de alta qualidade.
Sabores que narram territórios
Cada região do mundo imprime sabores únicos ao vinho:
- Borgonha: cereja, violeta, cogumelos, terra molhada.
- Toscânia: cereja preta, tabaco, couro.
- Mendoza: ameixa, cassis, notas minerais.
- Napa Valley: amora, baunilha, chocolate.
- Margaret River: lima, maracujá, pedra molhada.
Degustar é aprender a ouvir essas vozes sensoriais. Como disse o crítico Hugh Johnson: “Beber vinho é beber geografia”.
O encanto do enoturismo: mais que taças, experiências
As vinícolas evoluíram de simples produtoras para verdadeiros pólos de experiência. Hoje, o visitante encontra:
- Hospedagens de luxo dentro dos vinhedos, com vistas deslumbrantes.
- Aulas de blending, onde o viajante cria seu próprio corte.
- Roteiros de bicicleta entre vinhedos e aldeias medievais.
- Spas com vinoterapia, usando subprodutos da uva para tratamentos corporais.
Segundo a revista Decanter, 72% dos enoturistas entrevistados afirmaram buscar destinos que aliem gastronomia, cultura e hospitalidade ao vinho.
Tendências: sustentabilidade e autenticidade
O viajante elegante de hoje quer mais do que luxo: quer propósito. Vinícolas biodinâmicas, orgânicas e naturais ganham destaque. Exemplos como a Domaine de la Romanée-Conti (França) e Emiliana (Chile) mostram que é possível unir excelência e respeito ao meio ambiente.
Além disso, há uma valorização crescente das pequenas produções familiares, onde a autenticidade e o toque humano se tornam diferenciais.
O convite das videiras
Viajar no rastro das videiras é entregar-se a um universo onde o tempo tem outro ritmo, onde a paisagem dita a personalidade e onde cada gole nos aproxima de uma terra e de sua história. Para os amantes do vinho, esses roteiros não são apenas viagens: são jornadas sensoriais, culturais e, acima de tudo, emocionais.
Ao escolher seu próximo destino, lembre-se: o verdadeiro luxo não está apenas no rótulo, mas no caminho que você trilha até ele.
Mauricio Costa – master sommelier | @workshopdevinhos