De astronauta a ministro

foto: Youtube

Minha entrevista é com o recém-nomeado ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta Marcos Pontes. Tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), atualmente na reserva, foi o primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço. Em 2006, partiu para a Estação Espacial Internacional (EEI) a bordo da nave russa Soyuz TMA-8.

Desde 2011, atua como embaixador da Organização da ONU para o Desenvolvimento Industrial. Publicou quatro livros: É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade; Missão cumprida; O Menino do Espaço; e, Caminhando com Gagarin: Crônicas de uma Missão Espacial.

A entrevista aconteceu na Nasa, na Flórida, EUA.

Qual a sensação de ter sido o único brasileiro a ir para o espaço em uma missão?
Era um sonho antigo. Meu pai era servente, e gosto de falar disso, pois sempre pensam que vim de uma família rica e, não, ao contrário. Minha família, de Bauru, interior do estado de São Paulo, é muito humilde. Comecei a trabalhar aos 14 anos na Força Aérea. Quando a Nasa veio recrutar um brasileiro, participei de um concurso público e fui selecionado. Gosto de falar para os jovens que, se estudar e trabalhar, tudo é possível, sim.

Como é sua rotina? Você se divide entre Houston e São Paulo?
Sim. Tenho dois ?lhos, são adultos já e trabalham em Houston e não consigo ?car longe deles. Então ?co lá e cá. Quando me perguntam onde moro, eu digo: tecnicamente, moro no avião…(risos).

Contemplar a terra do espaço, o que acrescentou às suas convicções?
Muda bastante como você vê a vida. Eu sou piloto de testes de aviões, astronauta e engenheiro, e trabalho muito com matemática e por isso acabei ?cando um pouco pragmático. Quando olhei a terra do espaço comecei a pensar nas pessoas. No ?nal das contas, as pessoas são a parte mais importante da nossa vida; essa foi a maior lição que tive.

Você sofreu alguma interferência física do espaço no seu corpo?
O espaço é um ambiente muito hostil para o corpo. A microgravidade, na qual ?camos ?utuando, altera o deslocamento de líquidos dentro do corpo. Isso reage na maneira como seu corpo produz células ósseas, por exemplo, e você pode voltar com osteoporose. A radiação no espaço também é muito intensa então acontecem alterações nos sistemas cardiovascular e imunológico. Fiquei dez dias no espaço na primeira visita. Por isso é necessário o treinamento tão pesado pelo qual passamos antes de ir.

Houve alguma situação estressante durante a missão?
Eu lembro que, durante um dos períodos em que estávamos dormindo, o alarme de incêndio disparou, o que nunca é bom dentro de uma espaçonave, mas treinamos tanto que sabemos lidar com situações desse tipo.

Qual a maior di?culdade durante a viagem?
Ocorre nos três primeiros dias em que o corpo ainda está se adaptando. Ficamos com muita coriza, dor de cabeça. São dias muito difícieis. Depois que essa fase passa, ?ca mais tranquilo. Dormimos em sacos de dormir, o que é confortável, pois estamos sempre ?utuando e não há a pressão no corpo.
Como você vê a participação do Brasil nos programas espaciais? O Brasil começou na década de 1960, junto com os Estados Unidos, mas, por uma série de razões, acabou ?cando para trás. Nós podemos e devemos retomar essa participação, assim como em outras áreas de pesquisas e tecnologia. Temos capacidade.

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