Um dos mais recorrentes temas de antropologia filosófica é como estar preparado para os imprevistos, para o inesperado, para o imprevisível. Filósofos pré-socráticos e contemporâneos discutem o tema levando em conta que a vida humana é um conjunto de incertezas e imprevistos e mesmo assim, todas as vezes que o inesperado ocorre o ser humano parece nunca estar preparado. Daí a importância e o valor das religiões que oferecem um caminho de enfrentar essas situações com menos dor e sofrimento. Relatos médicos afirmam que pessoas que têm fé enfrentam com muito mais força interior essas situações imprevisíveis, inclusive a morte. É preciso que saibamos que toda a filosofia existe para tentar explicar a morte, o mais terrível mistério humano. A verdade é que não tem como estar preparado para o inesperado e o ser humano acredita sempre que as tragédias que vê acontecer na vida de outras pessoas jamais lhes acontecerão. Embora acreditar que coisas ruins só acontecerão para as outras pessoas seja uma atitude irracional, é aqui que encontramos a semente da esperança. E a vida sem esperança não vale a pena ser vivida. E quando falo do inesperado, é claro que todos nós nos lembramos da tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, mas não quero me limitar a ela, nem a problemas de saúde ou perda de entes queridos. Veja quantos inesperados acontecem na empresa. A pessoa de maior confiança foi descoberta cometendo desvios financeiros há meses. O comprador em quem confiamos cegamente fazia compras de materiais inferiores pedindo propinas aos fornecedores. O responsável pelo desenvolvimento de novos produtos vendia nossos segredos aos nossos maiores concorrentes. Você mesmo pode preencher esta lista com sua própria experiência pessoal e profissional. Sei muito bem que é mais fácil falar sobre tudo isso por quem não passou pela tragédia, quem não perdeu tudo, quem está longe. É verdade! Mas qual alternativa resta aos que foram vitimados senão as virtudes da esperança e da resiliência como o ser humano já foi capaz de provar nas guerras, nas pestes, nas epidemias em que mostrou ser capaz de ter, manter e até fazer crescer essas virtudes dentro de si? Parar, pensar e planejar como enfrentar o que sobrou é o único caminho viável. Vale lembrar aqui o conselho do Marquês de Alorna ao desesperado Dom José, Rei de Portugal, após o terremoto de Lisboa em 1755 que acabou com aquela cidade e deixou milhares de mortos: “Enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”, disse o Marquês a Dom José. O que ele quis dizer é que não adianta ficar só lamentando o passado e as perdas. É preciso cuidar do que sobrou, dos vivos! E como os saqueadores e aproveitadores sempre vinham pelos portos era preciso fechá-los, isto é, evitar o mais que fosse possível, o aumento da tragédia já existente. Assim, o planejamento nessa hora deve contemplar um levantamento de tudo o que sobrou, tanto de material como de não-material, como pessoas, talentos, capacidades, possíveis parcerias etc. E, a partir dessa realidade concreta, enfrentando o fato brutal da tragédia, fazer as perguntas certas para recomeçar por onde possamos obter os resultados mais imediatos, recompondo o caixa e a nossa capacidade de produção, de prestação de serviços e de estabelecer parcerias estratégicas com empresas e entidades confiáveis e pessoas sérias, pois é preciso tomar cuidado (fechar os portos) com aqueles que desejam aproveitar de nossa fragilidade para nos prejudicar ainda mais. O pós-tragédia exige de todos nós uma extrema capacidade de união. Não é hora de brigas internas, disputas por poder, fofocas e busca por culpados. É hora de passar do plano do choro, ao plano da ação.
Pense nisso. Sucesso!