MEMÓRIAS DE ALPHAVILLE
Por: Even Sacchi Ambrosio
Conheci o engenheiro Yojiro Takaoka no final dos anos 1980, na empresa Construtora Albuquerque, Takaoka S.A.
Yojiro, vestido com simplicidade, sorrindo, acenou para mim e, depois, entrou em seu escritório.
Em 1992, ano em que minha filha nasceu, escolhemos Alphaville como nosso novo lar.
Apenas no início dos anos 2000 conheci, de fato, quem era o Dr. Takaoka, um dos idealizadores desta edge city. Foi quando Marcelo, o filho mais velho do engenheiro, que seguiu a profissão do pai, deu-me uma das tarefas mais gratificantes: escrever um livro com a bela história de seu pai, que havia falecido de enfarte em nove de outubro de 1994.
Logo nas primeiras entrevistas com a família (dona Therezinha, a esposa, e os filhos Marcelo, Alberto e Maria Teresa), clientes, amigos e funcionários, percebi que estava diante de um personagem especial.
Com o dom que Deus lhe deu, Yojiro não era um engenheiro que olhava para uma obra como um monte de concreto, mas via no bairro que estava criando as pessoas que iriam desfrutar daqueles pedacinhos de chão com suas famílias!
Alphaville nasceu de uma grande fazenda, para ser um bairro empresarial. Depois foi formado o Residencial 1, para os executivos das empresas que acreditaram na ideia e se instalaram aqui. O que veio depois, todos nós sabemos.
Mas, como Alphaville começou a se tornar um sucesso? Quando Yojiro, que formou uma parceria brilhante com seu sócio Renato Albuquerque – ambos formados pela Escola Politécnica da USP, turma de 1949 – entendeu que precisava trazer aos moradores a estrutura que não chegaria aqui sem um empurrãozinho de quem idealizou o bairro. Assim, fez um acordo com o dono de uma padaria, que depois veio para Alphaville (e está aqui até hoje, a La Ville). Ele passou a entregar pão e leite nas portas das primeiras casas destas paragens, cheias de vorazes pernilongos, segundo os primeiros moradores, devido à proximidade com o rio Tietê.
Os habitantes, porém, não precisavam somente de pão, mas de um lugar para exercer a sua fé. Foi aí que Takaoka pensou na construção da gruta, a primeira igreja católica do local, que foi dedicada a Nossa Senhora de Lourdes. Na ocasião, Yojiro disse: “Nasci budista, mas aqui tenho de respeitar a maioria.” E foi nessa gruta que me casei, em 1985, pois, mesmo antes de vir morar aqui, eu já amava este bairro.
Pensando que os moradores precisavam também de transporte, para que seus funcionários chegassem aos residenciais, fez parceria com a Benfica, empresa que teve, durante algum tempo, renda mínima bancada pela construtora. Yojiro gostava de resolver logo os problemas dos habitantes do bairro, então, trouxe a segurança, o posto de gasolina e, em seguida, o centro comercial.
O Residencial 2 foi feito com as mesmas características do 1. Logo depois, o engenheiro pensou em quem desejava terrenos menores para construir. Assim, foram feitos os residenciais 3 e 4, já não em Barueri, mas no município de Santana de Parnaíba. Outro terreno da fazenda Tamboré foi comprado para a construção dos demais residenciais.
Takaoka, humilde e competente, sempre foi amigo de seus colaboradores. Eles, sem exceção, tinham histórias bonitas para contar sobre o engenheiro. Nos fins de semana, ele se tornava pescador, seu hobby preferido.
Yojiro colecionou uma legião de admiradores em seus 71 anos. Sua filosofia: “O lugar onde se mora não precisa ser rico, nem mesmo estar totalmente acabado, o que importa é a sua história. A casa deve ser o seu sonho, o lugar de referência que você criou e onde se sente bem. Daí, eu valorizo mais o sonho que a realidade.”
Contar a história do Dr. Takaoka foi homenagear um ser humano generoso que conseguiu ser mais forte do que os projetos e realizações da poderosa empresa que ergueu na área da construção civil. Em 1980, Yojiro Takaoka dá a partida em Aldeia da Serra, mas isso é assunto para outra conversa…
*Even Sacchi Ambrosio é jornalista e escritora
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