Entrevistei a chefe de cozinha ítalo-argentina, radicada no Brasil, Paola Carosella. Além de chefe, ela também é empresária e possui o restaurante Arturito e o café La Guapa em São Paulo. Em 2014, entrou como jurada da versão brasileira do talent show Masterchef transmitido pela Band e ganhou a admiração de todo o Brasil.
Como se interessou por gastronomia?
Comecei com 18 anos, hoje tenho 46. Meus pais se separaram quando eu tinha cinco anos e ficava bastante tempo na casa da minha avó, italiana, que tinha horta, bichos e frutas. Meu avô pescava. Tudo era preparado muito artesanalmente por minha avó. A mãe do meu pai também era supercozinheira. Cresci rodeada por esse clima, ajudava, colhia… Quando fiquei mais velha, descobri que a cozinha preenchia um espaço muito legal em mim, me fazia sentir muito bem. Sou tímida, não vou a festas, adoro o silêncio. A cozinha me proporcionou isso, o meu canto, a minha privacidade.
Teve restaurantes em Buenos Aires?
Não, os meus dois primeiros restaurantes foram aqui em São Paulo. Antes de vir para cá, eu trabalhei na França, Nova York e também com Francis Mallman, cozinheiro argentino, durante sete anos. O Belarmino Iglesias convidou o Francis para ser o responsável pela cozinha do Figueira Rubayat em São Paulo em 2001. E eu vim com ele como chefe de cozinha, comandando, sem falar português, sessenta homens. Fiquei durante um ano e abri o Julia Cocina, meu primeiro restaurante, onde permaneci por dois anos e meio e saí. Abri, então, o Arturito e depois o La Guapa.
Você é de um tempo em que era muito raro uma mulher trabalhar como chefe de cozinha? Sofreu algum tipo de preconceito?
Eu fui a segunda mulher a fazer carreira em cozinhas profissionais na Argentina. Eu não carregava o preconceito de ser mulher. Se teve comentários idiotas, eu só os achava idiotas. Não nego que há coisas horrorosas que acontecem, mas comigo, por eu não carregar esse preconceito, cheguei à cozinha me sentindo igual a todos.
Qual é o melhor preparado por você?
Geralmente o que eu faço melhor é o que estou com muita vontade de fazer. Muitas vezes, eu planejo o cardápio e mudo tudo na hora, porque não era o que eu queria cozinhar. Para mim, a cozinha tem isso, a inspiração que você recebe do dia, das pessoas, do clima.
Se você tivesse que escolher um prato para representar o Brasil em um festival internacional de gastronomia, qual seria?
A gastronomia brasileira é tão rica que nunca termino de aprender; admiro muito e acho difícil definir em um prato só. Mas o primeiro que veio a minha cabeça foi o barreado. Eu gosto, porque, é um prato que leva carne e é cozido o dia todo, tem todo um trabalho feito dentro da panela; gosto desse cozimento lento.
Qual o balaço que faz de sua atuação no Masterchef?
Levo como uma coisa muito séria. Sempre que está perto da final, muitos falam, nas redes sociais, que é marmelada. O que quero dizer é que a final é gravada com muita antecedência e que não tem a ver com o ibope do participante, pois não temos como saber. Fogaça, Jacquin e eu avaliamos pratos, somente isso.
Verdade que você recusou uma proposta para posar nua?
Pra que uma cozinheira vai posar nua? Ganho dinheiro cozinhando, sendo empresária. Demorei muito tempo para me achar bonita, não sou assim de querer me mostrar. Hoje eu gosto de tudo em mim, meu nariz torto, meu queixo gigante e aceitei que não serei outra pessoa. Não terei outro tipo de perna e tudo bem. Estou bem feliz assim.