Reprodução/Internet
Escrever artigos de golfe tem sido para mim momentos de puro prazer, mas escrever este no dia seguinte do 89th Masters em Augusta, com a vitória do Rory McIIroy, depois de ficar 5 horas e 15 minutos, na frente da tv, não tem preço. Rory com esta vitória se torna o sexto jogador na história do golfe profissional a completar o Grand Slam. e se junta aos lendários Gene Sarazen (1935), Ben Hogan (1953), Gary Player (1965), Jack Nicklaus (1966) e Tiger Woods (2000). E isto ocorreu na 17ª vez que ele jogou seguidamente o torneio, diante de um público extraordinário que ficou enlouquecido com a vitória deste norte irlandês.
Eu, meus amigos, e milhões de pessoas mundo afora que amam este esporte, torcíamos deste o primeiro momento pela vitória de Rory, que bateu mais de uma vez na sua porta em anos anteriores. Todos que assistiram o torneio sabem, que o ponto de mudança da curva, foi no terceiro dia (Moving day), quando ele jogou 6 abaixo ao par, para iniciar o último dia com -12, tendo como companheiro de turma o americano Bryson deChambeau, que estava com-10. E a catarse do público era tão intensa, que mesmo o DeChambeau sendo natural da terra, a torcida americana ficou dividida entre ele e o Rory.
Se nos dois primeiros buracos, Rory com um double boggie e um par, ficou empatado com DeChambeau, bastou mais dois buracos para que voltasse a situação inicial de duas tacadas de vantagem, e ao chegarem aos buracos 11 e 12, onde DeChambeau fez um double e um boogie, para a torcida americana ficar ciente que seu compatriota tinha pouquíssimas chances, para que a paixão por este norte irlandês aflorasse novamente. E para os leitores da coluna que não acompanham mais profundamente o golfe, Rory depois do Tiger Woods, é o mais carismático e talentoso jogador PGA Tour, por isso essa idolatria dos torcedores. Tudo caminhava às mil maravilhas no script que o mundo do golfe gostaria de acreditar, onde comentaristas até renomados diziam que o título estava praticamente garantido, quando chegamos ao buraco 13 um par cinco de 545 jardas, onde Rory com o cuidado dos que lideram, optou por sair do tee com uma madeira três bem batida e a seguir quase como um lay up, deu um segundo tiro de ferro e ficou a mais ou menos 70 jardas da bandeira.
Todos esperavam uma jogada conservadora pois a bandeira estava difícil muito à direita, mas Rory com excesso de confiança tentou ir para cima da bandeira e um pequeno erro de aproximação fez com a sua bola fosse para o riacho em frente ao green. Isto ocasionou um double boggie por nervosismo (declarado por ele), gerou também um boggie no buraco seguinte, trazendo para o jogo, alguns jogadores que vinham a seguir (como diria um amigo os ávidos runners ups). Dentre eles o inglês Justin Rose, que tinha liderados nos dois primeiros dias do torneio, que no Moving day acabou jogando mais 3, e que fez birdies no 12, 13 e 14, boggie no 14, birdies no 15 e no 16, boogie no 17 e finalmente birdie no 18, onde ficou com -10 abaixo como o possível ganhador na sede. Já o Rory, com birdie no 15, par no 16 e birdie no buraco 17 (sensacional), precisava de um par no 18 para ganhar o Masters.
Mesmo podendo sair de forma conservadora como muitos campeões com esta vantagem fariam, Rory manda uma bomba de drive perfeito, ficando a menos 120 jardas do buraco. Uma tacada muito fácil para um jogador de sua categoria, mas aí foi traído pelos nervos, jogando a bola da banca da direita, e depois de uma boa saída da banca acabou errando um putter de no máximo 2 jardas.
A grande massa de espectadores no campo e todos nós ao arredor do mundo vendo pela televisão, ficamos apreensivos e torcendo como nunca para que ele fosse bem-sucedido no playoff (morte súbita) contra o seu amigo inglês Justin Rose. É bem verdade que ninguém ficaria muito desapontado se o Justin Rose ganhasse o buraco, aos quase 45 anos, seria o segundo mais velho a ganhar o Master, depois do Jack Nicklaus que ganhou aos 46 anos. Mas todo o frisson da torcida só acabou com o último putter do Rory a um pouco menos de uma jarda. Os dois foram para o tee do 18, cujo sorteio foi ganho pelo Rose, e consequente ter a honra de dar a primeira tacada. Ambos bateram seus drives muito bem, obviamente Rory deixou Rose umas 70 jardas para trás, e como regra coube ao Rose dar o segundo tiro primeiro, que foi dado muito bem deixando a bola há mais ou menos 6 jardas.
O suspense e o silêncio da torcida acabaram rapidamente quando Rory, novamente usando um sand wedge, deixou a bola a aproximadamente uma jarda. A explosão de aplausos e gritos foi instantânea, mas a apreensão de certa forma voltou pois Rose mais longe bateria o primeiro putter. Com um cuidado extremado Rose não teve pressa nenhuma e com certeza gostaria de repetir o putter que estava mais longe quando fez birdie no último buraco para empatar o jogo. Mas os deuses do golfe, estavam do lado de Rory, uma vez que a bola do Rose lambeu o buraco, mas não entrou.
A hora da verdade e a longa espera de tantos anos, parecia ter chegado ao fim, com o cuidado de quem segura algo extremamente frágil, Rory bate o putter e emboca, e ouve o estrondo da eufórica torcida que tanto o admira, joga seu putter para trás do corpo e de cócoras chora copiosamente, com o rosto encostando na grama. E a história do sonho de um menino, nascido e criado na pequena cidade de Hollywood, na Irlanda do Norte, que ousou sonhar com 8 anos de idade, em ser campeão de um Grand Slam de golfe acabava de ser realizada.
Viva o golfe!