Ele era um entre 90 outros rapazes, que eram carregadores de bolsas (caddies) num campo de golfe do interior, e como quase a totalidade de seus companheiros sonhava em ser jogador profissional ou professor de golfe. Por isto todas as terças feiras quando a diretoria liberava o campo para os caddies jogarem, ele era o primeiro a chegar antes da 7 horas da manhã e um dos últimos a ir embora no clube quando a noite já caía, e era impossível bater bola até no drive ranger. Vontade, fé, tenacidade, dedicação e foco eram alguns dos seus predicados que alimentavam o seu sonho de ser um jogador profissional. Pela sua boa vontade e disposição, conseguiu dois clientes muito especiais para servir de caddie, um deles um médico que jogava 2 a 3 vezes durante a semana e um outro um empresário que além de jogar todo o fim de semana, ainda era um bom jogador, com um história de muitas décadas no golfe. Esta dupla de clientes, caiu do céu para o nosso herói, pois além de lhe garantir um renda relativamente expressiva mensalmente, pois ambos quase nunca falharam e sabiam reconhecer o bom caddie que ele era, ainda lhe davam enorme orientações de como se desenvolver na vida, via os estudos e principalmente como se comportar, coisa que a maioria dos seus pares caddies não tiveram. Vencida a etapa do bom caddie, ele com o apoio dos seus clientes que eram influentes no clube, e muito pelo seu comportamento exemplar, acabou tendo autorização para jogar outros dias que não somente a terça feira tradicional, especialmente junto com o seu cliente da semana. Sua dedicação ao jogo e sua busca por conhecimento no esporte, fizeram dele um excelente jogador, e passo seguinte como professor de golfe. O seu primeiro aluno fixo, foi seu cliente medico da semana, mas com o tempo começou atender outros jogadores iniciantes na parte da tarde nos fins de semana, após ter atendido seu cliente tradicional dos fins de semana, que era um jogador de um dígito de handicap. Com o andar da carruagem, sua crescente performance, esbarrou numa regra que era lei oficial no Brasil, que para se tornar um professor de golfe teria que cursar educação física. Mesmo que nenhuma faculdade de educação física, nem a mais famosa delas a USP, tivesse no currículo uma aula sequer sobre o esporte golfe. Aí os deuses do golfe, que não desamparam os verdadeiros amantes do esporte, deram um verdadeiro empurrão, quando o seu cliente médico resolveu bancar o custo da mensalidade da faculdade de educação física. Com o suporte de outros clientes e orientações do seu cliente de fim de semana, ele passou a se dedicar a estudar como dar aulas, como se comportar e inúmeras matérias que completariam a sua base escolar, que sempre fora muito fraca. Em função disto ele decidiu, levar a faculdade de educação, com o intuito único de obter o diploma, para se tornar um professor de golfe oficial. O tremendo esforço para conseguir seguir adiante, também era pautado pela existência de mulher e dois filhos, o que exigia um certo malabarismo operacional, que quase tirava de letra, muito pela sua juventude. A tremenda fé e dedicação, aguardava um sopro divino para equilibrar sua vida, e ampliar seu horizonte futuro. Como um pequeno trampolim, que deu consistência ocorreu quase que por acaso. Foi convidado a jogar um torneio de profissionais, que tinha acoplado uma competição de duplas, envolvendo um jogador amador. O seu cliente de fim de semana, havia se comprometido com ele, que tentaria comprar o seu passe num leilão para que pudessem jogar o torneio em dupla.
Em quando os astros estão alinhados, as coisas acontecem sempre de uma forma muito especial, por isto já no primeiro dia do torneio dos profissionais aquele jovem jogador já se fez ser notado até pelos profissionais de ponta do circuito nacional. No dia do jogo de duplas, que também tinha um prêmio bem considerável aos profissionais, dependia muito da combinação de resultado com o parceiro amador, cujo jogos sempre apresentam uma oscilação muito grande. Mas era o dia do nosso herói, ou melhor era dia do seu parceiro amador, que não se sabe como e nem com que ajuda extraterrena, jogou um dos melhores jogos de sua vida. A combinação de resultado dos dois não foi perfeita, mas foi muito boa, que fez nosso herói receber um boa bolada e melhor do que isto, ficar conhecido por centenas pessoas que acompanharam o torneio e até gerar uma uma certa inveja em muitos jogadores profissionais de ponta, que não foram agraciados com prêmios financeiros de mesma grandeza. As comemorações foram grandes por todos no seu clube, e ele com uma cabeça muito boa aproveitou o prêmio para criar um pequeno negócio para que sua mulher pudesse atuar e ajudar na renda familiar. Esta demonstração de maturidade e o seu exemplar comportamento com todos do clube, não ficou despercebido pela diretoria do clube, que ampliou suas atividades como professor adjunto. Colocando todas as variáveis desde o seu nascimento num mesmo balaio, suas conquistas realmente foram muitas boas, e a necessidade de adaptar o seu sonho maior, mostrou muito mais do que fé, tenacidade, dedicação, ou outro esforço adicional, mostrou inteligência para alcançar o que era possível. E ainda mais servir de exemplo para muitos garotos, que saindo de famílias com pouquíssimos recursos, financeiros e intelectuais, possam galgar bons postos em qualquer atividade profissional. Um sonho adaptado e bem conquistado.
Viva o golfe | Abril de 2024