The Master 2020, extraordinário!

"Como disse um amigo, deve ter desconectado um chip na cabeça do Tiger no momento, mas com tremenda concentração e poder mental extraordinário, nos seis buracos seguintes ele fez um par e cinco birdies"

Dustin Jonhson

Neste mês, o meu artigo versaria sobre a importância e o poder do agora, especialmente depois de 10 meses de pandemia, propondo reflexões sobre os nossos ruídos mentais que tanto atrapalham nosso golfe e nossa vida.

Ia propor aos leitores focarmos no nosso presente, deixando de lado as preocupações passadas e futuras em demasia, para melhor praticar o nosso golfe de cada dia. Mas, ficando mais de 10 horas assistindo ao The Master 2020, como sempre jogado no Augusta National Golf Club, na Georgia, um dos dois maiores torneios do golfe mundial, percebi que minha tarefa foi em muito facilitada, uma vez que nossos leitores certamente se juntaram à monstruosa audiência mundial.

O golfe não tem idade Bryson DeChambeau(27) e Langer (63)

Pudemos, todos os que amam esse esporte, acompanhar, nos quatro dias de jogo, a evolução do desempenho de cada um desses jogadores, que, demonstrando um preparo físico, técnico e mental altíssimo, conseguiu fazer que 43 deles jogassem abaixo do par, um recorde nunca antes registrado nesse famoso torneio. Podemos começar falando da demonstração inequívoca do campeão Dustin Johnson, que, jogando 20 abaixo do par, um novo recorde do torneio, ratificou a condição de número um do golfe mundial. Sua concentração e desempenho pareciam uma orquestração perfeita das jogadas do tee de saída até o green de cada buraco. Em nenhum momento ele deixou transparecer que algo externo o poderia abalar, ou que qualquer outro jogador poderia ameaçá-lo em sua conquista. Se muitos de nós já achávamos que isto ia acontecer, quase ninguém poderia imaginar que dois jovens, um australiano (Cameron Smith, 27 anos) e um sul-coreano (Sungjae Im, de apenas 22 anos), ficariam em segundo lugar com quinze abaixo do par. Ambos deram uma lição de como praticar o golfe buraco a buraco; e, mesmo em momentos relativamente difíceis, eles não demonstraram qualquer perturbação, não deixaram qualquer ruído mental atrapalhar o jogo.

Chamo atenção para o fato, pois nem sempre respeitamos o nosso nível atual, tentando dar tacadas acima da nossa capacidade técnica, que geram erros que afetam profundamente o nosso mental e a continuidade do jogo.

Outro ponto a que gostaria de chamar atenção e que ocorreu no Master de 2020 foi a conquista do jogador alemão Bernhard Langer, que se tornou, aos 63 anos e poucos meses, o mais velho jogador na história do torneio a passar no corte (classificação para os dois dias finais do torneio), terminando três abaixo do par e deixando um grande números de jogadores jovens para trás, até mesmo alguns grandes mestres do jogo. Um destaque final deste Master, que também vale uma reflexão, foi a recuperação nos últimos buracos do Tiger Woods, que no buraco 12 teve uma pane muito comum entre nós amadores, fazendo em um par três em 10 tacadas, sua pior performance em um buraco em toda a sua longa carreira. Como disse um amigo, deve ter desconectado um chip na cabeça do Tiger no momento, mas com tremenda concentração e poder mental extraordinário, nos seis buracos seguintes ele fez um par e cinco birdies, sendo quatro em seguida, dando clara demonstração do poder do agora para todos nós!

Um rejuvenescimento, ou um pouco de maluquice no golfe
Dias atrás, jogando golfe com um dos meus melhores amigos, que já foi campeão sênior no Brasil e em Portugal, e vem sendo, ao longo da vida, um grande parceiro de jogo e de viagens – e também um jogador melhor do que eu, fato que nem sempre reflete nas nossas apostas -, tive um momento de bizarrice que só acontece com os loucos por golfe como nós.

Minha bola, no buraco sete do São Fernando Golfe Clube, entrou no córrego em frente ao green que liga os lagos dos buracos dois e oito. A bola, aparente e nova, no córrego de águas rasas, foi um convite ao acidente. Pedi ao meu parceiro, um veterano de mais de cinco décadas no golfe, como eu, para me ajudar a pegá-la. Os ingredientes estavam completos: eu, com joelhos de vidro estropiados no tempo, e ele com um ombro há muito avariado, foram suficientes para o desastre. Ao tentar descer para pegar a bola, o meu joelho direito falseou provocando uma batida forte na pedra, e, como o meu querido parceiro não tinha como me segurar, caí de costas na água e entre as pedras. Consegui ficar com o cotovelo e o joelho direito sangrando pela forte batida, e totalmente molhado. O meu lorde amigo segurou o máximo que pode o riso, e perguntou se eu gostaria de continuar jogando no estado em que me encontrava. Como não se abandona a guerra por perder uma batalha, fui obrigado a ir ao pro shop do clube e comprar roupas para continuar, e joguei uma segunda volta como há muito não fazia, tamanhas minhas concentração e gana.

Antes de chegar ao buraco 19, onde encontraríamos alguns amigos, avisei meu parceiro de que iria dizer para todos que ele havia me empurrado no córrego, só porque estava perdendo. Rimos muito juntos quando contei a história, na presença de quatro outros amigos. Um deles, que também é um amigo de mais de 50 anos, perguntou o que estes dois velhinhos tinham na cabeça, tentando resgatar uma bola usada e correndo riscos totalmente desnecessários. Aí o meu parceiro foi genial ao dizer que estávamos bancando dois juvenis, rejuvenescendo, pura e simplesmente.

Viva o golfe!

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