Depressão, ansiedade, insônia, estresse, medos, irritabilidade, raiva, frustração e tédio. Apesar de ser oncologista, precisei estudar esses temas desde que a pandemia de Covid19 se instaurou no Brasil. Infelizmente, as Universidades brasileiras preparam pouco os médicos sobre os temas ligados à saúde mental dos nossos pacientes. A atual pandemia escancarou essa fragilidade em nossa formação. Além dos pacientes que atendo, tenho recebido centenas de mensagens que relatam como está sendo estressante para muitas pessoas passar por este momento, as sensações de medo e ansiedade são queixas cada vez mais corriqueiras, em especial daqueles que precisam manter o distanciamento físico. Tenho conversado com colegas psiquiatras, e estes afirmam que, juntamente com o coronavírus, teremos uma epidemia de transtornos psicológicos e, segundo eles, representarão uma segunda onda de estragos à saúde.
Realmente, estamos diante de um turbilhão de emoções. Todas as nossas referências estão passando por um terremoto, e, em todo momento, somos colocados à prova, a começar pelo próprio inimigo comum: o vírus, que não tem face e não é possível se esconder dele, pois pode estar em qualquer lugar, onipresença que nos deixa em estado de tensão permanente.
As principais angústias
Um pequeno exercício para lembrar as principais angústias que tenho ouvido dos pacientes nesse período: ficar em um único local por períodos prolongados; quantidade brutal de notícias que sufocam; não poder abraçar, beijar ou apertar as mãos das pessoas; falta de contatos sociais; não dizer adeus aos que partiram devido às restrições aos velórios, insônia, medo de perder o emprego em função da crise econômica. Quando listei todas essas informações, decidi parar para não aumentar a minha própria angústia.
Como aprendi sempre a olhar o copo meio cheio, penso que podemos extrair ensinamentos deste triste momento para encarar algumas mudanças em nossa vida. O primeiro passo é enfrentar a realidade; estamos lidando com uma doença que só resolveremos com a criação de uma vacina, e, no melhor dos cenários, isso deve acontecer no início do próximo ano. Assim, temos de nos adaptar a esse novo normal em nossas vidas, sabendo que de nada adianta ficar lamentando pela existência do vírus. Fiz um levantamento das principais pesquisas e orientações dadas pelos especialistas, para que possamos passar por essa pandemia com mais qualidade de vida e saúde mental equilibrada.
Estratégias para o se bem-estar
É hora de usar e abusar dos aplicativos de videochamada, como o Skype, o WhatsApp, o Zoom e o Google Hangouts. Converse com seus familiares, mesmo com aqueles que você costuma encontrar apenas no Natal; busque, nas redes, amigos da sua época de colégio e faculdade. Neste momento, a internet é um instrumento de reconexão, mesmo a distância, e essas interações ajudam a preencher o vazio e a saudade que sentimos de estar perto daqueles que amamos. Adote uma dieta de notícias, tomando cuidado com o uso intensivo das redes sociais, que cumprem o papel da dopamina e acabam nos viciando. Para você ter uma ideia, segundo o site Internet Live Stats, a cada segundo o mundo produz e compartilha na web 2,9 milhões de e-mails, 8.947 posts no Twitter, 987 fotos no Instagram, 4.602 chamadas no Skype e 82.386 pesquisas no Google. Por uma pesquisa, o MIT descobriu que, em média, cada um de nós dá 2.617 toques por dia na tela do smartphone.
Diante dessas informações, não fique o dia inteiro conectado; procure fazer atividades que mantenham sua rotina diária, continue usando o despertador. Levante-se, vista-se e faça o café-da-manhã. Estabeleça metas para o seu dia. Outra dica importante é usar esse período para fazer as coisas que você desejava há muito tempo. Assista a algumas séries da Netflix. Leia os livros que estão se acumulando nas suas prateleiras. Limpe a casa. Reorganize seu quarto. Ouça os outros; você tem tempo agora, converse com as pessoas ao seu redor. Descubra o que a outra pessoa está pensando e sentindo. Reconecte-se. Escute. Um estudo da universidade americana Brigham Young demonstra que a falta de contatos sociais traz riscos à saúde comparáveis a fumar 15 cigarros por dia. Cientistas apontaram para o fato de que pessoas isoladas do contato social apresentam danos duas vezes maiores que a obesidade; portanto, não deixe de conversar e trocar energias com as pessoas. Está mais do que provado que felicidade e saúde dependem do convívio com o outro, hoje é possível fazer o distanciamento físico sem perder o convívio. Seja gentil com as pessoas próximas. Pratique empatia. Para que nossas angústias diminuam, a melhor tarefa é se colocar no lugar dos outros. Lembre-se de que você tem um lugar para ficar. Você tem amigos e família. Você tem comida. Infelizmente, muitos de nossos semelhantes não podem dizer a mesma coisa. Exerça a solidariedade, não existe nada melhor para curar uma angústia do que ajudar os que precisam. Como nossas crianças não estão nas escolas, aproveite e passe um tempo maior com elas. Coma bem e faça exercício, de preferência ao ar livre, e tome sol sempre que puder. Isso é fundamental para nossa saúde física e mental. Evite usar o celular ou ligar a televisão antes de dormir. Nossa imunidade e saúde mental dependem de uma boa noite de sono. Lembre-se que, para evitar brigas e rompimentos, a melhor ferramenta é o diálogo. Se estiver com dificuldades, procure ajuda profissional. Você pode ligar ou enviar mensagem para amigos ou familiares pedindo uma indicação de profissional de saúde mental e entrar em contato com ele. Somos todos mais fortes juntos, mesmo que precisemos estar fisicamente separados.