Ryder Cup 2025 uma loucura

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No mês de setembro passado tivemos nos dias 26 a 28 mais uma Ryder Cup, desta feita em território americano, no campo do Bethpage State Park, em Nova Iorque, um campo de par 70 e com 7.372 jardas, um campo muito difícil.

Como este para mim é um dos melhores torneios por equipe, resolvi fazer uma análise de probabilidades dos dois times, uns quinze dias antes do torneio, partindo de algumas premissas básicas, como por exemplo, que a principal força dos americanos está na alta classificação média no ranking mundial dos seus jogadores,  onde sete dos seus jogadores que iriam participar desta Ryder Cup, estão entre os 10 primeiros ranqueados, contar no time com seu principal jogador o atual número um do mundo Scottie Scheffler, outros talentos como o Xander Schaufelle, que não está em sua melhor temporada, mas sempre joga bem na Riders Cup e ainda um fator que pode ser preponderante o fato de jogar em casa, com sua grande torcida no Beth Black Course, um campo desafiador, que favorece o estilo de jogo agressivo e de longa distância.

Do lado europeu, seu forte está na experiência e no entrosamento de seus jogadores, destacando o Rory McIlroy o segundo do ranking mundial, e o grande responsável pela última vitória na Riders Cup de 2023, em solo europeu. E ainda, um pequeno detalhe que é o fato da equipe europeia ter um único novato, Rasmus Hojgaard, que pode ajudar num ambiente de alta pressão como a Ryder Cup. Como economista, acabo sempre olhando dados estatísticos, que nas últimas 12 Ryders Cup, de 2002 a 2023, a Europa ganhou 8 vezes e os Estados Unidos só 4.

Destaco um detalhe que considero importante: em 2022, em solo americano, os Estados Unidos ganharam com a maior diferença da história de pontos 19 a 9. Não podemos esquecer que foi jogada em 2022, pois em 2021 estávamos em plena pandemia de Covid. Agora partindo para a análise das probabilidades, comecei a questionar se o fator campo e a média de ranking do time americano seriam suficientes para superar a força da Europa nas modalidades de duplas. A Europa historicamente domina o formato de duplas, graças a química e sinergia do time, que contêm jogadores mais experientes e que jogam juntos há anos, e na modalidade tacadas alternadas (foursomes), o afinamento entre os parceiros quase sempre geram melhores resultados.

Na modalidade match play, a vantagem da potência individual dos americanos, pode ser segregada pela resiliência do time europeu, pois esta modalidade favorece os jogadores estrategistas, que tem nervos de aço e se adaptam melhor às situações de pressão. Um aspecto que pensei antes do torneio começar era a experiência dos capitães das duas equipes, que tem um ligeiro ponto a favor do europeu Luke Donald, uma vez que escalar bem as duplas pode ser um fator determinante. Por tudo comentado acima ficava difícil, cravar categoricamente quem iria ganhar, por isso resolvi consultar 3 amigos meus excelentes golfistas, que acompanham como eu dezenas de anos tudo sobre a Ryder Cup, e o resultado foi o mesmo que o meu, isto é, era difícil cravar categoricamente quem iria ganhar ao final a Ryder Cup 2025.

Tínhamos todos a certeza de que a Europa levaria muita vantagem nas duplas por tacada alternada, mas não acentuada vantagem nas duplas de best ball. E que os Estados Unidos teriam uma vantagem considerável nas 12 partidas de matchplay individual, no domingo. Já nos dois primeiros dias de competição, nós erramos fortemente os prognósticos, uma vez que a Europa deu uma tremenda surra nos Estados Unidos, ficando com 11,5 pontos  contra 4,5 dos americanos.

Contagem esta não esperada por ninguém. Se não bastasse isto, que por si só representava uma loucura, tivemos um horrível comportamento da torcida americana em Nova Iorque, que além do tradicional barulho que as torcidas locais fazem para intimidar os adversários, em qualquer dos solos, muito semelhante o que acontece na Copa Davis de tênis, extrapolou todos os limites, ao perseguir de forma violenta principalmente o número 1 europeu o Rory McIlroy, com palavras de baixo calão e não deixando dar as tacadas em silêncio como manda a ética do golfe.

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Nos nove buracos finais do segundo dia das duplas, Rory estava completamente atordoado com a torcida, e começou retrucar para eles calarem a boca e às vezes até usando o mesmo linguajar. Este episódio foi tão lamentável, que jogadores americanos como o Justin Thomas, pediam para a torcida parar. No final do sábado à noite, comentários gerais em todo o mundo que assistia a Rider Cup, era que os jogos de domingo iriam acabar já nas 4 ou 5 primeiras turmas, pois a Europa precisava somente 2,5 pontos para continuarem com a taça. Mas a realidade foi totalmente outra, uma vez que se o capitão americano Keegan Bradley, pecou nas escalações das duplas americanas, sem falar que  alguns acham que ele não soube preparar o campo, para as características dos seus comandados, no domingo foi a vez do Luke Donald, que nas simples escalou alguns jogadores errados.

Como por exemplo colocar o Rory para jogar contra o primeiro do mundo, Scottie Scheffler, quando seria mais razoável colocar contra o menos qualificado europeu, que era o novato Romus Hoggard. Com o passar das turmas, ficou latente que a cantada vitória europeia, prevista no dia anterior, ficou muito comprometida e causou um “frisson” de preocupações em todos que estavam torcendo pela Europa. Cada ponto a favor dos Estados Unidos parecia entusiasmar os companheiros americanos em campo.

E o alívio e a certeza que a Europa levaria de volta a taça, só aconteceu com a antepenúltima turma, com o putter de mais 4 jardas emborcado no buraco 18 pelo Irlandês Shane Lowry, que garantiu o meio ponto que faltava para a Europa fazer os 14 pontos. A eufórica comemoração dentro do Green do Lowry e de toda a equipe europeia, foi incrível. Se no sábado à noite se previa uma contagem de 18 a 10 para a Europa, o resultado de 15 a 13, demonstrou quão duro foram os matchplay do domingo a favor dos americanos.

E deixou no ar que em 2027, na Irlanda desta vez, vamos ter uma nova batalha muito dura. Se todos de bom senso, europeus, americanos e o resto do mundo que assistia Ryder Cup, condenaram veementemente as ocorrências lamentáveis da torcida em especial com relação ao Rory McIlroy, cuja mulher que é americana quase foi atingida com uma lata de cerveja com líquido dentro, pelos exaltados torcedores esperam que na Irlanda em 2027 a torcida europeia se comporte melhor.

Viva o golfe