Quebrar o tabu para preservar a vida

Na coluna deste mês, decidi falar sobre um tema que ainda é tabu em nossa sociedade, mas que precisa ser debatido e tratado como caso de saúde pública: o suicídio.

Como se não bastassem os problemas básicos de saúde que enfrentamos no Brasil, o suicídio passou a ser uma das grandes preocupações dos profissionais da área de saúde mental. Minha apreensão é causada pelos números assustadores da Organização Mundial da Saúde (OMS). Um caso de suicídio é registrado a cada 40 segundos no mundo. A “violência autodirigida” é classificada pela OMS como a 14ª causa de morte no mundo, e a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos.

Suicídio é um assunto complexo, com gatilhos delicados e, na maioria das vezes, imprevistos. É um problema sério, que tem como causas mais comuns a depressão, a esquizofrenia e o uso de drogas. Mas é a depressão, essa doença incapacitante, que tem levado muita gente a tirar sua vida nos últimos anos, principalmente aqui no Brasil. Por questões econômicas e pelo aumento dos problemas do dia a dia, que provocaram mudanças sociais significativas, a depressão se disseminou e, hoje, independentemente de classe social, tem deixado sequelas irreversíveis, em especial nas classes média e baixa.

Apoio emocional
Não é fácil prevenir o suicídio, assim como não é tão simples ajudar o depressivo; no entanto, um olhar mais cuidadoso da família e de amigos pode fazer a diferença. Precisamos também começar a falar deste mal com mais naturalidade. O medo e as proibições, sejam religiosas, sociais ou culturais, não contribuem para ajudar ninguém. Esse tabu precisa ser quebrado.

A compreensão, a capacidade de reconhecer que existe o problema, encarar a situação sem a inibição de demonstrar fragilidade, de pedir ajuda, podem ser o caminho para salvar e ser salvo. Nem sempre somos culpados por sofrer ou provocar sofrimento; somos culpados, sim, por recusar ajuda, por não dividir o que sentimos, por buscar o remédio errado para acabar com a dor.

Como ser humano, médico, homem e pai, sei da importância da ajuda química, por meio dos remédios, para trazer o equilíbrio de volta. Sei o valor do apoio emocional, de uma conversa, de um cuidado especial em um momento tão delicado. Preocupo-me diariamente com meus filhos e, principalmente, com o futuro deles. O mundo mudou, a vida mudou, e, se por um lado foi para melhor, ainda não temos a noção do pior que pode vir com tanta tecnologia e globalização.

Temos de ficar de olho nos jovens
Preocupante também é a faixa etária de quem comete o suicídio. Estudos e pesquisas demonstram que os jovens são os que mais atentam contra suas vidas, principalmente pessoas entre 15 a 29 anos, sendo a maioria do sexo masculino. O motivo, segundo os especialistas, é a dificuldade que os meninos têm em lidar com o sofrimento emocional. Além de serem mais impulsivos, mais agressivos, estarem mais expostos ao álcool e às drogas, demoram mais para pedir ajuda – isso quando pedem.

Com a vida de hoje, com tanta informação e permissividade, ficou muito mais difícil criar os filhos. O mundo se tornou mais cruel para o ser humano com tanta tecnologia, informação, exposição, disputas profissionais, comerciais, e a busca da perfeição física, do sucesso financeiro e social a qualquer preço. Para os adolescentes, perdidos na imaturidade, e às vezes nos conflitos familiares, o sofrimento pode ser ainda maior.

E o que começou como uma ferramenta de conhecimento, troca, união, como um “mundo de possibilidades” nas palmas das mãos, tem se mostrado cada vez mais perigoso, em especial para pessoas emocionalmente frágeis. Especialistas admitem que a Internet é um risco para o adolescente com tendência suicida. Estímulo a comportamentos disfuncionais, divulgação de crimes, métodos suicidas, ciberbullying, acabam tendo um grande efeito em jovens que se encontram vulneráveis, fragilizados; e, para algumas personalidades, são atrativos desencadeantes de processos suicidas. Atualmente, pesquisas na rede mostram que “crimes e assuntos violentos são muito mais atrativos que campanhas de orientação, ajuda e prevenção”, por exemplo.

O Estado tem sua parcela de culpa pelo aumento do suicídio no Brasil, uma vez que a saúde mental nunca foi prioridade, mesmo agora, com a depressão sendo o assunto mais discutido do momento. Segundo o relatório da OMS de 2017, a depressão já afeta 322 milhões de pessoas no mundo, sendo 11,5 milhões apenas no Brasil. É reconhecido que o estigma inibe a criação de ações e a prevenção por parte do governo brasileiro. Aqui, depressão ainda é vista como fraqueza, doença de rico mimado, de preguiçoso, entre outros mitos.

Muitos especialistas afirmam que a ciência já possui meios de reduzir esses índices, mas tem faltado atitude do governo para criar programas e implementar ações efetivas. Vale ressaltar: quem está deprimido produz menos, nos casos mais graves fica incapacitado, e isso atinge diretamente os números da previdência social. Mais um motivo para o governo agir com rapidez. Importante frisar que a depressão não é apenas uma questão emocional, ela também envolve fatores biológicos.

Você não está sozinho: a fé é uma grande aliada
Por meio da literatura e do que ouço no dia a dia, pelo menos uma vez na vida o ser humano já pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de impotência extrema. Certamente um momento de profundo desespero e falta de esperança trouxe pensamentos insuportáveis, mas basta fazer uma pausa, às vezes uma simples respirada profunda e buscar ajuda, para voltar a reorganizar sentimentos e ideias. De repente, tudo volta a fazer sentido para seguir adiante. Porém, para o suicida, tudo fica tão sem sentido que a morte passa a ser a única solução. Explicação objetiva não existe, mas, com certeza, é o limite dado a um sofrimento individual.

Felizmente existe tratamento!
Falar sobre saúde mental é fundamental para prevenir, tratar e reduzir os casos. Os pais devem ficar atentos às mudanças de comportamento dos filhos, como isolamento, pessimismo, alterações bruscas de hábitos, perda e ganho de peso sem motivo aparente, e transtornos de humor.

Recentemente, ouvi de um grande médico que o problema maior no mundo de hoje é a “falta de Deus na vida das pessoas. É todo mundo tão preocupado com o ter que nada mais cabe na vida, a não ser dinheiro, poder e sucesso. Se tem muito, há sofrimento. O mesmo ocorre para quem tem pouco. E, quando não sobra mais nada, a alma padece”.

Tenho certeza de que quem tem fé em Deus está muito melhor, mas não podemos esquecer que tudo que existe por aqui é criação divina e tem um motivo. Conversar com Deus, faz um bem danado. A ciência já reconhece a fé como aliada na cura de doenças, mas a medicina está aí, permitida por Deus, para ajudar a resolver os problemas do corpo e da mente.

A medicina faz a sua parte, os políticos têm a obrigação de fazer a deles.