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O golfe, esporte marcado pela precisão, técnica e, acima de tudo, pela resiliência mental, vem testemunhando uma nova era de excelência com o nome de Scottie Scheffler. Eu que apostava minhas fichas no incrível Rory McIlroy, como o substituto de Tiger Woods, tive que rever meus sentimentos e minhas certezas, uma vez que, Scheffler nos últimos dois anos, não apenas conquistou vitórias sucessivas, como também se consolidou como o mais provável substituto natural de Tiger Woods, um ícone cuja sombra paira sobre cada green, cada Fairway e cada torneio internacional. A metáfora que define Scheffler é a de um raio que caiu duas vezes no mesmo lugar – um fenômeno raro, mas que, no universo do golfe, se tornou quase uma previsão sempre que Scheffler entra no campo. Vejamos no último torneio BMW Championship, no buraco 17 do Cave Valley Golf Club, realizado entre 14 e 17 de agosto de 2025, quando ele erra o green deste par 3, quando seu oponente o escocês Robert McIntyre, uma tacada atrás no placar, também erra o green, mas fica melhor e mais próximo do buraco, aí Scheffler lembrando jogadas incríveis do Tiger dá um tiro espetacular embocando a bola e fazendo um birdie, que matou mais um torneio.
Tiger Woods, com sua mescla de carisma, habilidade e inesgotável sede de vitória, elevou o golfe a patamares nunca imaginados. Desde então, muitos tentaram, poucos se mantiveram, e quase nenhum conseguiu repetir a façanha de dominar a cena global por temporadas seguidas. Quem chegou mais perto foi o Rory, detentor do swing mais bonito da atualidade, que até dois atrás era o candidato único ao posto, muitos outros bons jogadores, como Justin Thomas, Brooks Koepka, Bryson Dechambeau, para citar três somente, sequer ameaçaram a condição de Rory, mas aí surge Scottie Scheffler, com um swing de certa forma “meio esquisito”, mas com uma combinação de humildade, força técnico-tática e uma regularidade assustadora do tee ao green. Em raras vezes se perdendo um pouco no green se compararmos com o Tiger no auge. Diferente de Rory, que muito cedo alcançou os holofotes, pelo seu precoce desempenho técnico, Scheffler iniciou sua ascensão de forma discreta. Não era considerado o favorito da mídia televisiva, tampouco os especialistas viam nele um prodígio garantido. Mas, com consistência, o texano foi deixando sua marca. A cada torneio, sua presença se tornava mais robusta, seu swing mais confiável (não bonito) e sua mentalidade mais inabalável.
Em temporadas recentes, Scheffler acumulou títulos de forma consecutiva, protagonizando o chamado “back to back” em torneios que exigem não apenas excelência técnica, mas também uma capacidade de renovação psicológica e física. E os resultados alcançados por ele neste ano de 2025, coloca-o num grupo seleto de jogadores que desafiam a lei de probabilidades, vamos conferir as vitórias:
- The CJ Cup Byron Nelson, o primeiro título do ano que deu início a temporada de vitórias.
- PGA Championship seu terceiro título de major
- The Memorial Tournament, fazendo um novo back to back consecutivo.
- The Open Championship, seu quarto título de major.
- BMW Championship, comentado no início deste artigo.
A conquista de dois Majors consecutivos – uma façanha raríssima – mostra que Scheffler não tem apenas só talento, mas possui uma habilidade de se reinventar e dominar os próprios nervos frente à pressão dos holofotes e dos rivais. A cada final disputada, Scheffler demonstrou serenidade, foco e agressividade calculada, características que fizeram dele não apenas vencedor. Seu estilo de jogo é diferente do de Woods, mas a postura diante do desafio e a capacidade de superar adversidades são traços comuns entre ambos.
Woods foi conhecido pela sua incrível capacidade de controlar o jogo mental, alterando o desempenho dos adversários apenas com sua presença. Scheffler, embora ainda jovem, apresenta traços semelhantes: sua serenidade não intimida, mas inspira respeito; sua regularidade não assusta, mas obriga os adversários a repensarem sua estratégia. O legado de Woods parece ter encontrado continuidade em Scheffler, que honra a tradição ao mesmo tempo em que constrói sua própria história.
As vitórias sucessivas de Scheffler não são apenas números nas estatísticas; elas representam uma mudança de paradigma. O golfe, muitas vezes visto como esporte de altos e baixos, tornou-se, com Scheffler, uma arena de previsibilidade encantadora: quando ele entra em campo, espera-se excelência. Essa previsibilidade, porém, não é sinônimo de monotonia, mas de admiração por uma performance consistente e inovadora.
Em entrevistas, Scheffler destaca que seu sucesso não é fruto de talento isolado, mas de um processo meticuloso de aprendizado, treino e análise. O trabalho com psicólogos esportivos, técnicos especializados e o apoio familiar criaram um ambiente propício para o desenvolvimento de um atleta completo. Scheffler se mostra atento aos detalhes e aberto ao aprimoramento constante, tornando suas conquistas um reflexo de humildade e dedicação.
Scheffler, um exemplo para as novas gerações, iniciou sua carreira no golfe ainda criança, influenciado pelo cenário texano, onde a tradição esportiva é levada a sério. Com o passar dos anos, seu desenvolvimento foi marcado por uma rara combinação de disciplina e alegria. Nos circuitos universitários, rapidamente se destacou, chamando atenção de treinadores e patrocinadores. Sua transição para o circuito profissional foi pautada pela cautela, nunca apressando os degraus, sempre respeitando o tempo do aprendizado.
Comparar Scheffler a Woods é inevitável, como já ocorreu com o Rory McIlroy, também é injusto se ignorarmos as singularidades de ambos. Woods foi revolucionário pela força e precisão, além de trazer para o golfe uma cultura de superação e marketing pessoal sem precedentes. Scheffler, por sua vez, é discreto, avesso aos holofotes, mas igualmente eficaz. Sua maneira de lidar com a pressão é menos explosiva, mais contida, mas não menos impactante.
Eu com as minhas mais de cinco décadas no golfe, agradeço todos os dias, a possibilidade de acompanhar de perto, Tiger, Rory e Scheffler, e suas enormes capacidades de transformar o golfe em espetáculo, ao melhor estilo “raio que cai duas vezes no mesmo lugar”, desafiam as probabilidades e iluminam o caminho para as futuras gerações de golfistas.
O futuro parece promissor para Scheffler, hoje com somente 29 anos, enquanto Rory, que tem muita lenha para queimar ainda, está com 36 anos. Enquanto Woods permanece como uma lenda, Scheffler constrói seu próprio legado, com respeito e admiração por aqueles que vieram antes.
Viva o golfe