Muita gente acha que o golfe é um esporte individual, onde cada jogador joga contra si mesmo e contra o campo. Mas um olhar mais atento ou mesmo um certo aprofundamento revela uma teia de inter-relações que influenciam diretamente no desempenho de cada jogador. Em primeiro lugar, olhar com mais acuidade o campo de golfe, pois este é um ator fundamental, que exige conhecimento de suas características únicas, não há dois campos iguais no mundo, que moldam a estratégia e os desafios de cada jogada. Os jogadores profissionais sempre adotam uma postura com relação ao campo, através de uma leitura atenta do terreno como um todo, tees, fairways, roughs, bancas e greens, e todas as nuances que o ambiente impõe. E porque nós amadores, muitas vezes esquecemos desta interação entre o jogador e o campo? Você, caro leitor, tem esta cumplicidade com o campo que você joga assiduamente? Uma segunda inter-relação importante, é com os seus equipamentos, tacos, bolas e demais equipamentos utilizados, que exercem uma influência significativa no seu desempenho. Eu costumava brincar num passado não tão recente “que o importante era o índio e não as flechas”, mas a tecnologia e inovações na indústria de equipamentos de golfe, cada dia cria condições que ajudam os jogadores a melhorarem sua performance. Nós “índios golfistas novos ou velhos”, temos que nos atualizar e adaptar as últimas tendências, pois um taco adequado ao seu perfil e a escolha de bolas certas, poderão representar alguns Strokes a menos em cada partida. Mas precisa ficar claro que você não precisa comprar a última novidade, e sim aquela que melhor se adequa ao seu perfil e nível de jogador. Uma inter-relação que o golfista precisa sempre ter em mente, que a meu ver é superior às duas acima comentadas, é atenção às regras do jogo e em especial as regras de etiquetas. Regras essas que dão fluidez ao jogo, promovem a segurança do jogador e em especial a preservação do campo. Cumprir as regras do jogo e da etiqueta demonstra respeito aos demais jogadores, ao campo e à tradição do esporte. Outro dia vi um anúncio feito por um capitão de um clube, num torneio interno de strokeplay, que não podia ter bola dada, não podia entrar nas áreas de proteção ambiental (apas) e não podia ter som alto no carts. Fiquei abismado com o que eu li, e fui perguntar para um dos profissionais quais as razões destas observações óbvias da capitania, fui informado que um grupo de jogadores veteranos tinham esta prática constante. Meus amigos, vou parafrasear um amigo que pertence a The R&A (Associação que dita as regras do golfe mundial), que diz “o golfe não precisa ser chato, ele só não pode ser bagunçado”. `Por isso, observar as regras promove um ambiente de cortesia, fair play, camaradagem, e acima de tudo nos torneios a igualdade de condições entre todos os participantes. Já falei do campo, dos equipamentos e das regras, vou comentar sobre mais três pilares também importantes nas inter-relações que este esporte exige, que entendo serem as competições (individuais ou por equipe), os aspectos psicológicos e por fim e não menos importante a interação social. Numa competição individual, a concentração e o foco são essenciais, mas a rivalidade entre parceiros tem que ficar contida dentro do maior “savoir faire” e elegância possível. Na competição por equipes, o foco tem que ficar na cooperação, na comunicação e no trabalho conjunto, que são essenciais para o sucesso e o prazer de jogar. Os aspectos psicológicos, no golfe são mais que importantes, eles que vão dar ao jogador o equilíbrio para tirar tudo de bom que o esporte tem para dar. Para começar o golfe exige concentração, foco, controle emocional e resiliência para lidar com as frustrações e desafios do jogo. É um jogo de quem erra menos e não que acerta mais, dizem alguns experts. A interação entre o jogador e seus próprios pensamentos, emoções e até crenças são determinantes para o seu desempenho. Em complemento a isto, vem o gerenciamento de estresse, visualização e treinamento mental. E isto é tão evidente, que jogadores brilhantes do PGA Tour, ganham às vezes um torneio numa semana e na outra saem completamente do jogo. E tem casos de jogadores profissionais que ficam anos sem jogar bem, e por que nós amadores que na maioria jogamos uma vez por semana nos estressamos por não jogar bem determinadas partidas? Deixei pôr fim a interação social, que normalmente começa na boa relação de camaradagem no jogo, quando jogamos com estranhos, que segue nos compartilhamentos de experiências no buraco 19 (o bar), e criam futuras amizades, parcerias e oportunidades. Obviamente estas oportunidades se tornam crescentes quando criamos uma irmandade de golfistas. E você leitor, já ficou preso nesta teia de inter- relações chamada golfe!
Viva o Golfe | Março 2024