O Estoicismo e o Golfe

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Venho me deleitando ao escrever artigos de golfe, durante os últimos 25 anos, procurando sempre que possível sair do caminho tradicional dos comentaristas e articulistas especializados no esporte. Já contei histórias verdadeiras e outras criadas dentro da mais pura licença poética, comentei conquistas e feitos excepcionais dos grandes jogadores da história do golfe, de amadores e fiz até um artigo comparando as principais tacadas de golfe com músicas clássicas, rock e blues. Num dos capítulos do meu livro Vivendo o Golfe, lançado em 2010, comparei o golfe e o jogo de futebol.

E nesta semana quando estava lendo o livro Café com Sêneca, do autor David Fideler, que numa linguagem simples e clara nos dá uma lição surpreendente dos ensinamentos deste mestre filósofo, que viveu quase há dois mil anos, e que parece tão atual, tive a ideia de estabelecer comparações dos princípios filosóficos do golfe e o do estoicismo de Sêneca. Alguns leitores vão achar que estou viajando no espaço (ou na maionese como diriam uns jovens) e alguns golfistas amigos, vão achar que endoidei de vez com a minha paixão pelo golfe. Mas vamos juntos refletir sobre os pontos de conexão, segregando aspectos que são mais latentes: No golfe o foco está no presente, onde cada tacada exige concentração total, o que se reflete na filosofia de Sêneca na importância de viver o presente.

O jogo de golfe é a arte de superar obstáculos e desafios, onde além de buscar um swing perfeito, temos que superar bancas, lagos, riachos, montanhas, ventos das mais diversas ordens, para citar alguns somente, e a forma que os jogadores reagem a esses desafios, com frustração ou com atitudes de superação, que reflete o princípio estoico fundamental, que é aceitar o que não podemos controlar e focar no desempenho do possível. Se Seneca pregou a importância da disciplina e do domínio das paixões, para se atingir a virtude e a tranquilidade, no golfe você só terá sucesso se tiver um alto grau de autocontrole físico e mental.

Simplificando em poucas palavras, o golfe exige autocontrole, disciplina e dedicação, que são os pilares da técnica física. Mas para diferenciar os bons jogadores e os super craques do golfe, temos outra conexão, muito forte com o estoicismo, que é poder mental e interior, onde saber controlar a ansiedade, manter a calma sob pressão e saber lidar com as frustrações, fazem toda a diferença. Como diria Sêneca, a ênfase estóica está no cultivo da fortaleza interior e no controle das emoções. Se falamos sobre o presente, o foco, a resiliência, o autocontrole e a disciplina, acho que podemos ainda, elencar dois outros fatores assemelhados do golfe com o estoicismo, começando pela jornada estoica em busca da sabedoria através da imperfeição humana, que no golfe é representada pela busca da tacada ideal, que são tão raras no universo da imperfeição do jogo.

Me lembrei neste momento de quando adolescente, na década de 1960, no Gávea Golfe Clube, ouvir o grande mestre do golfe brasileiro de todos os tempos, Mario Gonzalez, dizer a um interlocutor que numa partida de golfe de 18 buracos, ele dava de 4 a 6 tacadas perfeitas. O que se considerarmos um campo de par 72, daria em torno de 6% de tacadas muito boas. E como um último fator neste exercício de reflexão entre o golfe e o estoicismo, que me vem à mente, é a própria natureza, como ordem natural das coisas e nosso lugar no universo, que para nós golfistas está espelhado em todos os campos de golfe que jogamos e naqueles que um dia iremos jogar. Sem medo de errar ou ser presunçoso demais, o golfe é uma filosofia de vida.

Viva o golfe!