O DNA diferente dos campeões

Resprodução/Internet

Muita gente já escreveu sobre a arte de competir, como sendo uma habilidade extremamente complexa, que exige atributos técnicos, físicos, mentais e emocionais. É a capacidade de alcançar um objetivo, através da superação de obstáculos, desafios das mais diversas ordens e situações. Mas sem ser um especialista na área, há uma clara situação que nos leva a crer que os campeões têm um DNA diferente.

Como escritor desta coluna sobre golfe há um quarto de século e praticante deste maravilhoso esporte há mais de 6 décadas, desde menino acompanho os grandes nomes do golfe como Arnold Palmer, Jack Nicklaus, Tom Watson, Seve Balesteros, Gary Player, Phil Mickelson, Tiger Woods, mais recente o Rory McIlroy e o atual número do mundo Scottie Scheffler, para mim está claro que eles preenchem todos os quatros requisitos, técnicos, físicos, mentais, emocionais e um quinto requisito que a extrema vontade de ganhar. Durante os últimos 60 dias, em função de uma cirurgia de coluna, ampliou em muito as horas dedicadas a assistir os mais diversos esportes, além das minhas 50 horas em média assistindo golfe.

Começando no mês de junho que além dos torneios de golfe, da Liga da Nações de Voleibol, a fórmula 1, teve o torneio de Roland Garros, que vi todos os dias desde a primeira vitória do Nadal até a do mês passado com a vitória do seu conterrâneo Carlos Alcaraz. No mês de julho, o mais espetacular deles, que antecede os jogos olímpicos, que começaram no final do mês, com três eventos que são fantásticos, o Tour de France, a principal prova do calendário do ciclismo mundial, o torneio de tênis de Wimbledon, o maior dos majors do tênis e o incrível The Open Championship de Golfe, que tem como rival a altura o Masters de Augusta. Vendo estas grandes competições, consigo entender um pouco a nobre arte de competir, uma vez que os exemplos são inúmeros em quase todas as modalidades.

Ver um Nadal depois de muitos meses no estaleiro, entrando na chave principal de Roland Garros, e jogando como se fosse um juvenil em busca de um lugar ao sol, lutando com todas as suas forças físicas, bem prejudicadas pelo extenso tempo que ficou fora das quadras, mas com um excepcional poder mental e emocional, é sem dúvida um privilégio. A garra, a tenacidade e extrema vontade de ganhar, está no cerne do seu ser, e nenhum espectador deixa de sentir esta vibração. Esta sensação ou poder de competir, ficou claro também na final quando o seu compatriota Carlos Alcaraz, no dia 9 de junho, depois de 4 horas e 19 minutos, bateu o alemão Alexander Zverev por 3 sets a 2. Episódio também singular ocorreu logo em seguida no torneio de Wimbledon, outro monstro na arte de competir, o sérvio Novak Djokovic de 37 anos, o maior ganhador da história do tênis mundial, enfrenta também o Carlos Alcaraz de 21 anos, na final e perde em três sets a zero.

Resultado acachapante para quem não assistiu o jogo, mas um belíssimo jogo para quem viu in loco ou pela tv. Alcaraz entrou nos dois primeiros sets, com uma concentração extremada, porque sempre acompanhou o Dioko desde a sua tenra infância, e sabia do potencial de recuperação do sérvio que parece não sentir o peso da idade. O poder na arte de competir, é bem refletido quando Alcaraz tem 3 break points, no terceiro set, e não consegue fechar. Seguindo nesta linha, dos grandes na arte de competir, o que me chamou muita atenção foi o Tour de France, que mesmo antes de começar as 21 etapas já tinha os dois favoritos a ganhar, os ex campeões o dinamarquês Jonas Vingergaard de 27 anos, ganhador do tour de 2022 e 2023, e o esloveno Tadej Pogacar de 25 anos ganhador de 2020 e 2021. Que confirmaram todos os prognósticos, só com a ordem trocada, pois são considerados disparados os dois melhores ciclistas dos últimos anos. Mas o grande campeão na arte de competir deste tour, para mim ficou por conta do inglês Mark Cavendish, de 39 anos, que esteve há dois anos prestes a se aposentar em função da idade e dos inúmeros problemas de contusão, mas voltou este ano para buscar sua 35ª quinta vitória em etapas do tour, superando o recorde do famoso ciclista belga Eddy Merckx, que perdurava desde 5 de julho de 1975.

Tive quase taquicardia de tanto torcer para o Cavendish no sprint final da quinta etapa. Depois de falar dos monstros, Nadal, Dioko, Alacaraz, Pocagar, Vingergaard e do Cavendish, o mês não estaria completo se não falasse de um novo monstro na arte de competir, que surgiu no The Open Championship 2024 realizado do Royal Troon Golf Club, na Escócia, o americano Xander Schaufelle, que ganhou pela segunda vez um major este ano. Ele já havia ganho o PGA Championship realizado em maio em Louisville, no estado de Kentucky. E a frase que melhor define este também extraordinário competidor, ficou por conta do seu caddie, que disse ao entrar no Tee de saída buraco 18, que ele estava à beira de vomitar de tanto nervosismo e o Schaufelle literalmente calmo ao seu lado. Ele aos 30 anos tem no currículo também uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio, realizados em 2020.

Do final de julho até o último dia 11 de agosto, passei uma infinidade de horas assistindo os jogos Olímpicos de Paris, lamentando, todavia, o não televisionamento para o Brasil do golfe, que acabei acompanhando através do aplicativo do PGA Tour, sempre muito competente. Pude ver atletas com excepcionai DNA da vitória, como Simone Biles e a nossa Rebecca Andrade, na ginastica olímpica e o excepcional atleta sueco do salto com vara Armand Duplantis, que além de ganhar o bicampeonato olímpico ainda quebrou novamente o recorde mundial.

Sem falar do extraordinário Dioko que bateu por 3 a zero na final o seu algoz de Wimbledon Carlos Alcaraz. Mas voltando ao nosso golfe dois atletas excepcionais, com um DNA diferenciado ganharam medalhas de ouro no masculino e no feminino. O Scottie Scheffler número um do mundo hoje, entra para a última volta do golfe nas Olimpíadas em quarto lugar e joga 9 abaixo ao par, num campo muito difícil para levar a medalha de ouro. E a Nova Zelandesa Lydia Ko, que perguntada na véspera de iniciar o torneio feminino do golfe, que ocorreu na semana seguinte ao masculino, qual era o objetivo dela nestes jogos olímpicos, foi cirúrgica ao afirmar que tinha vindo a Paris, para completar o seu quadro de medalhas, foi prata no Rio de Janeiro, bronze no Japão e em Paris queria o ouro. E dito e feito com uma garra excepcional levou o ouro em Paris. E ainda para confirmar seu DNA ganhador aos 27 anos, está superstar, vai entrar para o Hall da Fama do LPGA.

Viva o golfe