Lucca dos Santos nasceu no Pronto-socorro Central de Barueri há pouco mais de sete anos, no dia 4 de novembro de 2013. Mais de cinco anos depois acompanhou o treino de um primo na escolinha de basquete do Barueri Esporte Forte, que fica no CIE (Centro de Iniciação Esportiva), no Bairro dos Altos.
Ao invés de permanecer na arquibancada, ele ficou batendo bola na beira da quadra e chamou atenção dos mestres: “ele demonstrou muita habilidade na condução da bola”, afirma Luciana Thomazini, sua técnica. Os pais, Jaime dos Santos e Marisa Luiz, foram convidados a matriculá-lo no mesmo dia.
Após algumas postagens de vídeos que Jaime fez nas redes sociais, surgiu o convite de uma empresa especializada em intercâmbios esportivos (Awaygames) para que Lucca participasse de um camp (clínica de aprimoramento) de 15 dias nas academias USA Hoops, UCF Athletics e DME, nos Estados Unidos. Lá, os atletas treinam quatro horas diárias divididas em dois períodos.
Como pagar, entretanto, os R$ 80.000,00 das passagens aéreas, hospedagens e da própria taxa que as academias cobram? Tudo resolvido: o dono da empresa de intercâmbio bancou as despesas, desde que pudesse usar a imagem do míni atleta como divulgação.
A felicidade tomou conta de Lucca. Ele se destacou nos treinos, ganhou ingressos e dinheiro para gastar na Disney World, foi assistir a um Jogo entre Orlando Magic e Oklahoma City e foi autorizado a visitar o astro Paul George (atualmente no Los Angeles Clippers) no vestiário. Se pudesse escolher, ele ficaria um pouco mais satisfeito: “eu gosto mais do (Anderson) Varejão e do LeBron (James)”, confessa.
O melhor ainda estava por vir: Lucca ganhou uma bolsa integral de estudos até a conclusão do high school (ensino médio) na DME Basketball Academy, localizada em Daytona Beach, Flórida, onde cada ano de estudos custa a bagatela de 75.000 dólares (mais de R$ 30.000,00 por mês).
Naquele instituto, os estudantes têm atividades de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 15h, com treinos diários de basquete de 1h30. Quem diria! O menino que nem pôde frequentar a escola pública brasileira em razão da pandemia, vai se graduar numa escola de excelência em um dos países mais desenvolvidos do mundo. As aulas e treinos começam em agosto e ele está eufórico.
Paixão pelo basquete
“As paredes da minha casa estão cheias de marcas de bola de basquete”, revela o próprio Lucca. Marisa, a mãe, nem se incomoda. “Desde que era bebezinho, ele ficava pedindo para jogar ‘quete’”, afirma. Os brinquedos que ele escolhia, claro, eram sempre artigos de basquete. O que teria causado essa paixão no menino?
O pai, que tem 43 anos, foi jogador profissional até o ano em que Lucca nasceu. Passou por vários times da região (Jandira, Itapevi, Cotia, Alumínio etc.) e também pelo Quimsa, da Argentina. Formado em educação física desde 2006, tornou-se treinador da modalidade e ultimamente estava no Alphaville Tênis Clube.
Será que isso teria influenciado o filho? “Só se for pelo DNA”, afirma Jaime. “Mesmo vivendo do basquete, não fiz nada para interferir e nem quis treiná-lo. É fundamental que a vocação venha da própria pessoa”, complementa.
Pai e filho embarcam em breve para a realização de um sonho. Antes deverão fazer uma parada estratégica para cumprir uma quarentena de 15 dias em Guadalajara, no México. A mãe, analista financeira, só vai para os Estados Unidos depois que conseguir o visto da embaixada. “Jamais poderia ser contra esse passo. Conheci o Jaime no basquete e é o futuro do nosso filho”, conclui Marisa.