Espetáculo e prazer

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O último US OPEN de golfe realizado o mês passado, no Oakmont Country Club, na Pensilvânia, foi ganho pelo americano JJ Spaun, com dois abaixo ao par, depois de quatro dias de muito sofrimento, para todos os jogadores, que passaram ou não no corte, em função da velocidade dos greens ( stimpmeter a 15) e a altura do rough, que na maioria dos buracos estava perto de 15 cm, me fez fazer uma profunda reflexão sobre o golfe como espetáculo, para o público que acompanhou no campo ou pela tv, no mundo inteiro.

Ver jogadores do naipe do Scottie Scheffler, primeiro do ranking mundial e o Rory McIlroy, um dos maiores jogadores em atividade, penarem com os putters de menos de um metro ou dando papinhas homéricas, em função da bola estar enterrada num bush ao lado do green, não faz nada bem ao espetáculo, que semanalmente eles estão nos propiciando com suas elevadas técnicas. Acho que a USGA (Associação de Golfe dos Estados Unidos), que coordena e organiza desde 1898, tem todo o direito de dificultar nos diversos campos onde são realizados o US OPEN, forçando os jogadores a estarem em plena forma técnica e mental, para irem atrás dos prêmios mais elevados do golfe mundial, onde o campeão leva a bagatela de 4,5 milhões de dólares.

Mas este grau de dificuldade, na minha opinião, não pode impossibilitar o uso da técnica apurada destes jogadores, que fazem apaixonados como eu mundo afora ficar 5 horas grudados na TV por dia de torneio. O espetáculo fica horrível quando começamos a ver ou torcer pelo menos pior. Quando a sequência de jogadas ruins é excessiva, o torneio e o espetáculo perdem o brilho, o interesse do espectador vai diminuindo progressivamente.

Não sou daqueles que acham que o campo de jogo deva ser fácil, especialmente para os profissionais do PGA Tour, pois quando isto ocorre a desmotivação do espectador também ocorre. Uma comparação direta que eu gostaria de fazer nesta reflexão, é o caso do The Open – British Open, que como o US Open,   jogado ano a ano em campos diferentes, com grau de dificuldades muito acentuados, como ocorre nas vezes em que o torneio é jogado no Old Course Saint Andrews ou no Carnoustie Golf Links, onde especialmente as bancas assustam os melhores jogadores de golfe do mundo.

Mas o grau de dificuldade não mata a técnica refinada e nem as estratégias dos grandes jogadores, como também é o caso dos fortes ventos, que obrigam os jogadores a usarem tacos diferentes do que estão acostumados.

O golfe como espetáculo fica extremamente preservado, tanto para os que estão acompanhando no campo como pela TV, dando aos patrocinadores o retorno de mídia tão esperado. Trazendo para o mundo dos mortais amadores, que jogam golfe por prazer e que semanalmente estão jogando nos seus clubes nos cinco continentes, o assunto da dificuldade imposta nos seus torneios internos, é um ledo engano dos organizadores, pois são sensivelmente desestimulantes no longo prazo.

Em alguns clubes os profissionais responsáveis pela preparação do campo, transformam o campo para os torneios de tal modo, que os associados do próprio clube são os mais prejudicados. Jogam o ano inteiro com greens em torno de 9 no stimpmeter e nos dias dos abertos principalmente colocam em torno de 12 a 13, sem falar que em alguns clubes aumentam a distâncias de alguns buracos, o que é um crime para os amadores de handicap mais altos.

Tem alguns clubes que ainda mudam as situações das bancas, que são jogadas o ano inteiro com areia fofa, e nos torneios são compactadas ou molhadas, eu pessoalmente até gosto de uma areia mais compactada, mas não faz sentido para a maioria. O golfe profissional tem que privilegiar o espetáculo e o golfe amador o prazer da maioria, se mais de 80% dos sócios têm handicap de 18 para cima, porque privilegiam os scratches.

Viva o golfe!