Caito Maia

Para o fundador da Chilli Beans, maior rede especializada em óculos e acessórios da América Latina, com sede em Alphaville, o ousado plano estratégico para a marca alcançar o seu primeiro bilhão de reais em faturamento já está traçado. Nesta entrevista exclusiva ele revela o que vai fazer para chegar lá

Caito Maia, fundador da Chilli Beans: “tudo o que vamos lançar até dezembro de 2019 já está pronto, desenhado e em produção” | foto: Tárik Santiago

Quando não está em uma de suas inúmeras viagens pelo Brasil ou em outra parte do mundo, a exemplo dos 22 dias que havia acabado de passar na China, Antonio Caio Gomes Pereira Filho, mais conhecido como Caito Maia, costuma chegar por volta das dez horas no escritório e só finaliza o expediente depois das sete da noite. Hoje, além de comandar os negócios e ser um dos temidos tubarões do programa Shark Tank Brasil, exibido pelo canal Sony, sua prioridade é acompanhar a rotina de seus filhos, Luca e Benício. Fundada por Maia no fim da década de noventa, a Chilli Beans é consolidada como a maior rede especializada em óculos e acessórios da América Latina, com mais de oitocentos pontos de venda no Brasil e também em Portugal, Estados Unidos, Colômbia, Kuwait, Peru, México, Bolívia e Tailândia. E não para por aí. Em breve, inaugura unidades no Catar, Arábia Saudita e Omã. Para alcançar o ousado faturamento de seu primeiro bilhão de reais (em 2017 a empresa faturou 550 milhões de reais), a marca acalenta um ambicioso plano estratégico traçado: ter 1.200 pontos de venda no mundo todo nos próximos cinco anos. “E uma das coisas que vai nos ajudar a chegar ao plano é isso aqui”. [Caito aponta para o óculos de grau em seu rosto da coleção Harry Potter, que estava sendo lançada no dia da entrevista]. O empresário também revela que, a cada cinco armações vendidas no País, quatro são de óculos de grau e uma de óculos escuros. “Ou seja, podemos ser quatro vezes maiores do que somos. E vamos investir nisso”, ressalta.

Para 2019, está no radar da Chilli Beans inaugurar cinquenta lojas, com prioridade às unidades de rua. “Não tem mais shopping para inaugurar no Brasil. Se houvesse mais trezentos shoppings em construção, por exemplo, eu iria abrir Chilli Beans em todos eles”, avalia. A marca lança semanalmente dez modelos de óculos de sol, cinco de relógios e sete de armações de grau. “Tudo o que vamos lançar até dezembro de 2019 já está pronto, desenhado e em produção”, garante.

Em novembro, Caito vai caminhar novamente entre Taubaté e Aparecida do Norte. O trajeto leva em média 11 horas. “Vou por dois motivos. O primeiro é para agradecer. Hoje não tenho o que pedir. Minha vida é especial, tenho meus filhos, minha empresa. E o segundo motivo é cumprir uma promessa”, diz. O empresário não é religioso, mas tem uma imagem de Nossa Senhora Aparecida na estante de sua sala. A seguir, os melhores momentos do encontro.

Como surgiu a Chilli Beans?
Na década de noventa eu era músico profissional e tinha uma banda, a Las Ticas Tienen Fuego. Concorremos ao VMA-Video Music Awards, da MTV. Cinco bandas foram escolhidas e estávamos entre elas. Fizemos turnê no Brasil inteiro, quase assinamos contrato com a Sony. Por um triz não fui um rock star. Não levamos o tão esperado prêmio. Meu pai era músico e ele nunca me deixava tocar nada, sempre foi contra. Ele falava que não queria que eu sofresse o que ele sofreu. E aí Deus me abriu uma porta nova: a Chilli Beans. Eu me sinto feliz, contente e realizado.

Quem foi seu primeiro cliente?
Foi um amigo do Clube Paulistano. Sempre fui um cara “comerciante”. Antes de vender óculos, ia para os Estados Unidos e trazia guitarra, baixo, bateria para a turma inteira. Tinha um grande grupo de amigos músicos, e eu era o fornecedor de instrumentos musicais. Costumo falar que dois mais dois viravam cinco em minha vida. Desde moleque já sabia negociar e fazer um dinheirinho. É instinto, não dá para explicar. A minha faculdade é de música. Eu não fiz faculdade de Administração de Empresas, por exemplo. Nessas idas e vindas para os Estados Unidos, comprei duzentos óculos num camelô na Califórnia, em Venice Beach. Trouxe na mala e comecei a vender para os amigos. Não era apenas um produto com preço bom. Tinha personalidade e estilo. Cheguei ao Brasil e, em uma semana, acabaram os duzentos óculos. Logo surgiram grandes pedidos e abri uma importadora. Cheguei a ter 250 clientes de atacado. Dois deles não me pagaram e eu quebrei. Tinha dois caminhos: voltava para a banda ou aprendia a lição e seguia em frente.

Que lição?
A venda por atacado não tem margem, por um simples motivo: você não tem marca. Marca é tudo na vida. Quando você tem uma marca, tem valorização do seu produto, tem margem de lucro, tem controle do seu negócio. Criei a Chilli Beans para participar de um negócio chamado Mercado Mundo Mix, maior fenômeno de comportamento social de moda que aconteceu neste País na década de noventa. Era uma feira de moda que acontecia nas capitais do Brasil, e todos os estilistas que estão na SPFW-São Paulo Fashion Week, começaram nessa feira com “estandizinho”.

Valeu a pena trocar os palcos pelos negócios?
Claro que valeu. Estou muito satisfeito, muito feliz com toda essa realização. Na verdade eu ainda subo bastante no palco (risos). Além de ministrar palestras, também produzimos um evento anual, o Chilli Mob Cruise, em um gigantesco e luxuoso navio, o Costa Favolosa. A nossa convenção se tornou um produto e um programa de televisão, exibido no Multishow. De certa forma, o rock ‘n’ roll e o palco permanecem em minha vida.

O senhor aceitou fazer parte do time de investidores da segunda e terceira temporadas do reality de negócios Shark Tank Brasil. Como tem sido a sua experiência?
A minha experiência tem sido muito especial por dois motivos: primeiro, por poder oferecer a oportunidade que não tive, de alguém olhar e falar “o seu negócio é legal. Vou investir em você”. Quando decidi empreender, não tive ajuda de absolutamente ninguém. O segundo motivo é uma mãe que me para na rua e fala “meu filho quer tirar uma foto com você”. O filho dela tem 13 anos de idade. Em vez de encher a cabeça do menino com bobagem, que é o que mais tem na televisão hoje, estou ajudando esse garoto a pensar em negócios. Isso tem acontecido cada vez mais. É muito gratificante fazer parte desse movimento.

No programa, como decide investir em um negócio, o que chama a sua atenção?
Não entro em um negócio só por dinheiro. Eu entro no negócio por amor e por desejo. É assim que acredito. Busco mirar em alguma coisa na qual eu possa contribuir. Costumo enxergar o brilho do olho do empreendedor. O que mais vejo são pessoas preocupadas em fazer muita conta. Quando percebo que a pessoa sente prazer pelo que está fazendo, isso chama a minha atenção. Também observo se o indivíduo realmente está no jogo, se já está na prática. Vejo muita gente dizendo “criei este negócio para ganhar dinheiro”. Não acredito nisso. Você cria um negócio para ser feliz, para ter prazer, para ter paixão pelo que faz. Aí o dinheiro vem de tudo quanto é lado. Se você pensa primeiro no negócio, você não chega lá. Essa é a minha opinião.

Aponte o maior erro e o maior aprendizado de sua trajetória empreendedora.
Não sei se falaria de erro e aprendizado. Vou falar das coisas que me trouxeram até aqui. Primeiro: pessoas. Se eu estou onde estou é por pessoas. As pessoas absolutamente compraram meu negócio e minhas ideias. Muitas vezes eu disse: “olha, vem trabalhar comigo, mas não tenho dinheiro para te pagar”. E a pessoa: “tá bom, acredito na sua loucura”. Também aprendi que ninguém faz nada sozinho. Esse foi um dos meus maiores aprendizados que tive nos últimos vinte anos de Chilli Beans.

Quem é seu ídolo?
Minha resposta é meio decepcionante. Os meus ídolos não são empreendedores como Jeff Bezos, fundador do Amazon, ou Steve Jobs, criador da Apple. Ídolo que me influenciou na minha marca, na música, na cartela de cor, no design, nas minhas campanhas: David Bowie. Esse cara é meu ídolo. Eu me inspiro nele, no jeito que ele mudou uma geração. O conteúdo da música, o figurino, as atitudes e os filmes sempre foram fonte de inspiração. Outro cara que me inspira bastante é o diretor, roteirista e produtor David Lynch.

O senhor esperava chegar na posição em que está hoje?
Não. Todo dia acontece algo em minha vida que nunca poderia imaginar que iria acontecer. É uma surpresa atrás da outra. O único lugar no mundo em que a Ray-Ban perde em mercado é no Brasil e para a Chilli Beans. Ter essa conquista, virar case na Universidade de Harvard e tornar a Chilli Beans a maior marca de óculos escuros da América Latina é surpreendente. Só tenho a agradecer a Deus. A sensação que eu tenho é que ainda vai acontecer muita coisa.

Fale um pouco sobre sua vida em Alphaville.
Adoro morar e trabalhar em Alphaville. Para ser honesto, quando não estou trabalhando, eu me enclausuro. Gosto de ficar em casa assistindo a filmes. Aos sábados assisto umas seis horas de Netflix (risos). Alphaville tem muitos lugares para correr ou andar de bike. Já tenho minhas rotas e trilhas favoritas no bairro. Tenho carro antigo e curto passear pela região. A sede da Chilli Beans fica aqui: toda estrutura de marketing, departamento comercial e financeiro, desenvolvimento de produtos e centro de distribuição. Somente na sede trabalham cerca de quinhentas pessoas. No geral, geramos cerca de oito empregos – entre diretos e indiretos, com a abertura de novo ponto da Chilli Beans.

O senhor pratica algum exercício? Como é o seu estilo de vida?
Sim. Costumo falar que sou uma farsa. As pessoas imaginam que sou festeiro, doidão (risos). Sou uma mentira, porque não bebo, não fumo, não uso drogas. Durmo oito horas por noite, sou super restrito com alimentação, não como carne vermelha, estou evitando frango e peixe. Todos os dias acordo, faço meditação, malho e venho trabalhar. Sou bem disciplinado. Acredito que quando Deus está mandando as pessoas para a Terra, elas têm duas cartinhas: uma é da disciplina e outra do talento. Aí você está na fila e escolhe. “quero talento” ou “quero disciplina”. Quem pega a carta da disciplina, mesmo que seja zero de talento, uma hora vai conseguir fazer o que quiser na vida. Já quem pega a outra carta poderá ser a pessoa mais talentosa da face da Terra, só que, sem disciplina, ela não conseguirá construir um “barquinho de papel”. Disciplina é tudo na vida. Se você perguntar qual é o segredo do meu sucesso, a resposta é disciplina.

Qual é o seu sonho grande?
Meu sonho grande é continuar fomentando e fazendo o bem das pessoas que se envolvem comigo e com a minha marca. Tenho oito mil pessoas envolvidas no meu negócio. É muito especial acompanhar de perto a evolução de um franqueado que era um vendedor da Chilli Beans. Ele se tornou um empresário e hoje tem 25 lojas. Meu sonho grande é continuar fazendo o bem para a sociedade, fomentando a sociedade com o meu trabalho. É fazer as pessoas que se envolvem com a Chilli Beans crescerem e ajudarem o Brasil a ser melhor do que é. Esse é meu sonho grande.

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