Para fechar a série de artigos sobre O Futuro Que Já Existe na China, hoje falarei sobre como aquele país olha para as oportunidades, mostrando um contraste bem interessante com o que vi quando estive no Vale do Silício. Durante os anos que morei nos EUA, a atitude perante as oportunidades era clara: se encontrou algo com potencial, foque com tudo em um só produto que supra uma necessidade muito específica. Desfocar é sinônimo de jogar fora a possibilidade de se tornar o maior do mundo em algo.
Em uma das minhas viagens à China, visitei uma empresa em Shenzhen que produz baterias para drones. Chegando à empresa, o dono me levou para um tour, mas, por todos os lados havia violões, não baterias para drones. Perguntei o que faziam aqueles milhares de violões lá, e ele me explicou que, décadas atrás, tinha capital disponível para quem soubesse fazer instrumentos musicais bem feitos, então agarrou a oportunidade e produz violões até hoje.
Depois ele me levou a uma fábrica de silicone que era parceira de sua empresa. Perguntei se as baterias de drone tinham algum revestimento de silicone. A resposta foi que não, que a fábrica estava trabalhando em um outro produto, uma novidade que seria lançada em breve: uma máscara de poluição inteligente, conectada a um aplicativo que monitora diversos parâmetros.
Fiquei um tanto intrigada: violão, máscara de poluição integrada, bateria para drones… cada um desses produtos é diferente do outro. E assim começou a ficar mais clara para mim a maneira como muitos empreendedores na China vêm oportunidades: se têm algo disponível agora, agarram. Em um mercado com quase um bilhão e meio de pessoas, pensar em longo prazo muitas vezes é um luxo. Isso não necessariamente mata a inovação. Eu nunca tinha visto um aplicativo conectado a uma máscara de poluição, mas eles estão desenvolvendo isso porque existe uma demanda agora, não pensando no futuro.
O que mais me deixou admirada foi a velocidade com que eles aprendem a desenvolver produtos que demandam conhecimentos completamente diferentes para a produção. Nem passa pela cabeça deles que talvez não aprendam a desenvolver algo. Ao perceber a demanda, se jogam na produção.
Isso oferece efeitos colaterais e há, sim, empresas que, ao agarrar centenas de produtos, acabam por oferecer menor qualidade. No entanto, ao longo dos últimos anos, visitei muitas empresas que são completamente desfocadas para o padrão Vale do Silício, mas conseguiriam conciliar variedade com qualidade.
Entender a China com o modelo mental do Ocidente não é algo tão simples. A China é um país surpreendente que tem criado soluções para melhorar a vida de seus habitantes e se tornar, de fato, a maior potência do mundo.
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Autor: Marc Williams e Danny Penman
Editora: Sextante
Preço: R$ 37,50
*Preços pesquisados em janeiro de 2019