O sofrimento suportável

Reprodução/Internet

Por que as pessoas evitam se arriscar e acabam convivendo com situações insatisfatórias pela vida afora? 

Será que são burras? Não acredito… Será que são masoquistas? Tampouco acho que seja o caso… 

O fato é que todos nós temos uma tendência bastante natural: fazemos o que nos dá prazer e evitamos o que nos provoca sofrimento. 

Para entendermos o que leva alguém a manter relacionamentos, profissões, empregos e circunstâncias profundamente insatisfatórios, precisamos analisar a forma como as pessoas definem o sofrimento. A percepção do que é sofrimento vai determinar as escolhas e, portanto, os comportamentos. As pessoas somente mudarão quando a dor de não estar vivendo for maior do que o medo da mudança. 

Na verdade, decidimos manter uma situação desagradável porque tememos sofrimentos desconhecidos ou maiores do que aqueles que vivemos – ainda que persistam por menos tempo. 

Se você compreende que sofrer é a perspectiva de não se sair bem no próximo emprego ou relacionamento, poderá se sujeitar a um chefe que o humilhe diariamente ou a uma relação sem amor. 

Se seu filho compreende que sofrer é ficar sem dinheiro, vai sujeitar-se a viver eternamente dependente dos pais. 

Se uma viúva imaginar que sofrer é ir a um jantar e não ter com quem conversar, aceitará viver sem sair de casa pelo resto da vida. 

Isso nos leva a pensar que, na maior parte das vezes, as pessoas não percebem que fazem escolhas que provocam diariamente mais e mais sofrimento. 

Essa percepção distorcida faz a gente optar por relacionamentos, profissões, empregos e circunstâncias que não nos realizam como seres humanos – e começamos a distorcer nossas escolhas. 

É por causa disso que muita gente, sem ao menos saber, prefere permanecer vivendo com um sofrimento conhecido a tomar uma decisão que leve a um sofrimento desconhecido. 

Se pudéssemos adivinhar o pensamento dessas pessoas, provavelmente ouviríamos: 

– Pelo menos já conheço meu marido… 

– Pelo menos meus pais me deixam chegar tarde em casa… 

– Pelo menos nessa profissão eu tenho emprego… 

– Pelo menos esse emprego é garantido… 

Outras pessoas, também sem se dar conta, preferem conviver com um sofrimento suportável a se arriscar por um caminho em que, de repente, venham a sofrer ainda mais. 

É o caso daquele casal de namorados que briga diariamente, mas não termina porque nenhum dos dois quer viver o sofrimento da separação. Muitas vezes ficam se torturando durante anos porque não têm coragem de enfrentar a dor momentânea de um rompimento. 

São as mulheres que não falam das frustrações sexuais com seu companheiro por medo de desencadear uma crise conjugal. Elas não tomam uma decisão que possa melhorar sua vida porque têm medo de provocar mais problemas. 

Nesse caso, se entrássemos nos pensamentos dessas pessoas, ouviríamos algo como: 

– Prefiro brigar todos os dias com meu companheiro a ficar sozinha porque não serei capaz de conquistar outra pessoa. 

– É melhor ficar quieto, senão vou provocar uma crise muito maior! 

– É melhor trabalhar todos os dias em uma profissão que não tem nada a ver comigo do que ficar desempregado. 

As pessoas temem ousar, e seus medos são os mais diversos: 

Medo de sofrer mais em outra relação. 

Medo da solidão. 

Medo de não encontrar uma pessoa legal. 

Medo de não mais saber namorar. 

Medo de ter de enfrentar situações novas. 

É lógico que as pessoas não fazem essas escolhas conscientemente. Mas às vezes elas se acomodam conscientemente… Simplesmente deixam que a vida decida por elas. Até que, em um momento de lucidez e consciência, percebem que esse relacionamento, esse estilo de vida, essa profissão ou esse emprego só traz sofrimento inútil. 

Infelizmente muitas pessoas vão passar pela vida sem perceber que estão colecionando frustrações e sofrimentos, quando na verdade têm muitas opções de mudança. 

Nesse momento, elas têm duas escolhas: partem para o tudo ou nada ou se enganam com mais uma promessa que jamais será cumprida: 

– Quando meus filhos crescerem, eu vou me separar… 

– Quando meus pais ficarem mais velhos, eu mudarei de casa… 

– Quando eu ganhar na loteria, vou fazer o que gosto… 

– Quando eu encontrar uma empresa legal, sairei deste emprego… 

– Quando ele perceber quanto o amo, vai parar de beber… 

Assim, situações insatisfatórias se arrastam por muito tempo sem jamais ser enfrentadas para valer. 

Está na hora de você parar de usar óculos cor-de-rosa e fazer promessas vazias a si mesmo! Você precisa acreditar que a vida pode ser muito melhor do que é agora!

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