Ela ainda é a doença que mais mata no mundo, mas agora sem romantismo

Conhecida como a “doença dos poetas”, foi um mal que levou muito cedo deste mundo grandes nomes da poesia, idealistas, pensadores, pintores, cientistas e até monarcas. Além de roubar a saúde, ela deixou sequelas graves na vida das pessoas e mesmo na política. Sem cura, do século XIX até o começo do século XX, quem era acometido pela doença morria jovem, a maioria com idade entre 21 e 35 anos.

Uma doença grave, contagiosa, sem cura na época, que levou ao desespero milhões de pessoas em todo o mundo. Havia doentes que tentavam sobreviver buscando tratamentos absurdos, bizarros, sofridos, e até românticos e eróticos. Iam de exercícios violentos, repouso, sangria, tratamento sanatorial, ao romântico chão forrado de pétalas de rosas e ramos de plantas aromáticas, para o portador da doença pisar e passear o maior tempo possível. Na busca da cura, os poetas tentavam se livrar da dor e do medo da morte iminente dividindo seu sofrimento com todos em prosa e verso, enquanto os pintores a retratavam em suas telas. Estou falando da tuberculose, doença que matou milhões no passado e tem se agravado a cada dia no Brasil.

MARCAS DO PASSADO
“Eu sei que vou morrer…dentro do meu peito um mal terrível me devora a vida…/ Sombra da morte no ramal encerra! / Vivo que vaga entre o chão dos mortos,/ Morto entre os vivos a vagar na terra”. Trecho de Mocidade e Morte, de Castro Alves.

“Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida/ À sombra de uma cruz e escrevam nela: Foi poeta, sonhou e amou a vida.” Álvares de Azevedo sobre a vida que a tuberculose estava lhe roubando.

“A febre me queima a fronte…/ Eu sofro; o corpo padece/ E minh’alma se estremece/ Ouvindo o do
brar dos sinos”. Trechos de As Primaveras, de Casimiro de Abreu

“Vomitar o pulmão na noite horrível/ Em que se deita sangue pela boca…/ Alucinado, vendo em cada escarro/ O retrato da própria consciência”. Trecho de Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos, o mais amargo e sarcástico.

DETERMINANTES SOCIAIS
Os séculos passaram, vieram a cura e a prevenção e a doença infecciosa que mais mata no mundo ficou adormecida. Hoje, em um cenário diferente, sem o romantismo dos séculos XIX e XX, a tuberculose vitimiza principalmente quem vive em extrema pobreza e desnutrição, mas não poupa diabéticos, transplantados e os que a ignoram e chegam a hospitais com quadros graves e às vezes irreversíveis.

Escolhi este tema para alertar a todos, pois é muito preocupante o aumento de casos de tuberculose no Brasil. Os últimos números apontam para o fato de que em cada 100 mil habitantes, são registrados 34,8 casos, e desses, 2,2 acabam morrendo. Devemos ficar atentos e alertas, os governos precisam tratar a doença como o perigo real que ela representa para população.

A realidade que acompanho hoje no País e, particularmente aqui em Santana de Parnaíba, assusta, e, se nada for feito, um quadro mais grave poderá acontecer a qualquer momento. Precisamos voltar à prevenção, já que a doença é transmitida facilmente por via aérea. Basta uma pessoa contaminada tossir, espirrar ou até mesmo um simples bocejo, para tornar um ambiente repleto de bactérias. É importante também que a população entenda, se conscientize, que um quadro suspeito deve ser tratado o mais rápido possível, já que a doença pode demorar até três meses para se manifestar.

PRINCIPAIS SINTOMAS DA DOENÇA
O principal sintoma da tuberculose é a tosse por mais de três semanas. Produção de catarro, dor no peito, febre, sudorese noturna, falta de apetite, emagrecimento, cansaço e fadiga. Nos casos mais avançados, pode ocorrer escarro com sangue. O diagnóstico é feito por meio de exames bacteriológicos e radiografia do tórax. O tratamento da tuberculose dura, no mínimo, seis meses; é gratuito e disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS).

EXCELENTE NOTÍCIA:
A TUBERCULOSE TEM CURA

Terapia de combate à Tuberculose está disponível nas UBS – Unidades Básicas de Saúde. Os municípios são os responsáveis por descobrir os casos, oferecer assistência aos pacientes, distribuir medicamentos e garantir o tratamento. A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que afeta principalmente os pulmões, mas também pode atingir rins e meninges, membranas que envolvem o cérebro. É uma doença que precisa ser levada a sério, que pode ser prevenida, tratada e curada, mas o melhor caminho é a prevenção.

Em crianças, a principal forma de prevenir a tuberculose é com a vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin), disponibilizada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). A vacina deve ser dada às crianças ao nascer, ou, no máximo, até quatro anos, 11 meses e 29 dias. Outra medida de prevenção da doença é manter ambientes bem ventilados e com entrada da luz solar. Vale ressaltar que a tuberculose não é transmitida por objetos compartilhados como talheres, copos, entre outros.

É urgente evitar que aumente, mais ainda, o número de casos. A tuberculose voltou a matar milhares de pessoas no Brasil, e não há nada de romântico nisso. A cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos, e ocorre cerca de 4,5 mil mortes em decorrência da tuberculose no País, segundo dados do Ministério da Saúde. No mundo real, principalmente onde a qualidade de vida praticamente inexiste, pessoas estão adoecendo e morrendo, principalmente as mais pobres. E não há rima ou poesia que torne este quadro mais aceitável.

Por: Dr. Danilo Ferraresi | CRM / SP – 135249 Formado em Medicina pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb), com residência em Radioterapia e pós-graduação em Perícias Médicas pela Santa Casa de Misericórdia, SP

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